“Andy Warhol – Um Sonho Americano”: abordando as raízes familiares, documentário revela lado inédito do pioneiro da arte pop | 2025

Um dos artistas plásticos mais influentes e importantes do século XX, controverso, amado e odiado na mesma proporção, Andy Warhol é um dos pais da Pop Art, movimento que quebrou com a tradição da arte clássica através da conexão da vida quotidiana com a cultura de massa. Inovador, ele transformou objetos banais como uma garrafa de Coca-Cola, uma lata de sopa Campbell´s ou uma banana em obras milionárias; deu uma visão ultra moderna a retratos de celebridade como Marilyn Monroe e Elizabeth Taylor; fundou a revista Interview e o espaço multicultural The Factory. E, por fim, tornou-se ele mesmo uma figura mítica tão grande quanto suas obras, com sua peruca platinada, ternos bem cortados e aura de mistério. Todos esses elementos são bem conhecidos do grande público, que ao menos uma vez na vida já se deparou com uma de suas imagens. O que pouca gente conhece são as origens de Andy Warhol, sua família e terra natal que moldaram suas várias facetas e influenciaram sua trajetória criativa. O documentário “Andy Warhol – Um Sonho Americano” traz essa abordagem inédita sobre o artista, mostrando o homem por trás do astro.

O documentário dirigido pelo diretor eslovaco L´ubomír Ján Slivka tem como fio condutor os depoimentos da família Warhola (o seu sobrenome original) , em especial dos dois sobrinhos, Donald G. Warhola e James Warhola; dos familiares que ainda vivem no vilarejo de origem da família situado na antiga Rutênia, hoje Eslováquia. Relatos riquíssimos de críticos e marchands de arte, historiadores e amigos do artista traçam sua trajetória pessoal e revelam detalhes privados que o mundo desconhece. Menino frágil e tímido que começou a desenhar depois de ficar doente e acamado, que sofreu muito com a morte precoce do pai e foi ajudar a mãe a colocar dinheiro na casa vendendo lindas rosas feitas de lata ( o talento certamente veio dela), Andy Warhol foi o primeiro da família a ter diploma universitário. Mudou-se de Pittsburgh para Nova York atrás do “Sonho Americano”, onde começou trabalhando como ilustrador publicitário, numa carreira que decolou rapidamente, principalmente depois que ele trouxe a serigrafia pras galerias e museus. Pra surpresa de muitos, era um homem que tinha na família e no companheiro seu porto seguro, que prezava valores como amizade e gratidão, e que cultivou o lado religioso: a igreja católica bizantina que frequentava sempre o influenciou.

Ao contrário da atmosfera efervescente da obra de Warhol, com seu forte impacto e cores vibrantes, e da vida social glamourosa, a narrativa do documentário tem um clima sóbrio e uma cadência tranquila, porém cativante do início ao fim. As imagens de arquivo são fartas, com fotos antigas dos antepassados, de Warhol bebê e em sua mais tenra infância, em sua maioria fornecidas pela sua família, pelo Museu Andy Warhol em Pittsburgh e por outras galerias dedicadas a ele.

Somos levados a um passeio pela Eslováquia e também pela Nova York do artista, pela sua primeira casa, onde pintou obras hoje exibidas em museus ao redor do mundo; pela casa luxuosa onde morou com seu marido; pela The Factory, onde ele foi vítima de uma louca que tentou assassiná-lo; até à catedral de sua despedida final e de seu túmulo em Pittsburgh. O sabor é agridoce, pois ele talvez ainda tivesse muitas ideias para realizar e muito talento pra compartilhar com o mundo.

“Andy Warhol – Um Sonho Americano” surpreende quem, como eu, só conhecia o fascinante artista através de suas obras e da inovação que elas trouxeram para a cultura pop. Um documentário fascinante que tira Warhol do panteão das celebridades e o traz pro mundo real, mostrando-o como uma pessoa comum, um homem sensível com quem poucos tiveram a alegria e o privilégio de conviver na intimidade.