“A Verdadeira Dor”: Jesse Eisenberg e Kieran Culkin interpretam primos em busca de reconexão em excursão pela Polônia | 2024
Lançado com destaque no Festival de Sundance no início de 2024, “A Verdadeira Dor” é o segundo trabalho de Jesse Eisenberg na direção de longa-metragem e o faz com absoluta propriedade e sensibilidade. Eisenberg também assina o roteiro, que se apoia na relação conturbada, porém cheia de ternura, entre dois primos em momentos muito diferentes de suas vidas durante uma viagem por cidades da Polônia, junto a uma excursão temática sobre o Holocausto. David Kaplan (Jesse Eisenberg) e Benji Kaplan (Kieran Culkin) não poderiam ser mais diferentes, enquanto David é sistemático e organizado, além de ser casado e ter um filho, Benji é o oposto, com sua vida desregrada, seus comentários ácidos e falta de objetivos (ele ainda mora no porão da casa de sua mãe). Após o falecimento da avó de ambos, uma judia polonesa muito querida, especialmente por Benji, ambos decidem embarcar nesta aventura de explorar o país de origem dela, culminando com a visita à casa onde ela nasceu e foi criada na Polônia.
É claro que o roteiro, com fortes inspirações na vida de Eisenberg, reserva momentos de tensão entre os primos, reaproximação e diálogos muito bem elaborados, sempre com um realismo desconcertante. O momento pessoal pelo qual Benji está passando, com o luto pelo falecimento de sua avó e sua inércia em relação à sua própria vida, contribui para que seu comportamento seja errático e muitas vezes corrosivo para o grupo de turistas que viajam juntos com os dois. Dentre os companheiros de viagem da excursão, destaca-se a participação simpática da atriz Jennifer Grey, a Baby de “Dirty Dancing” (1987), que tem a oportunidade de explorar sua faceta “dramedy” como uma recém-divorciada tentando se reencontrar.
Como é de costume em filmes sobre viagens e o desenvolvimento emocional de personagens em frangalhos tentando colocar a vida nos eixos, “A Verdadeira Dor” se apoia bastante no talento de Eisenberg e Culkin para extrair conversas reveladoras entre os primos e lavar a roupa suja. Eisenberg está ótimo como David, mas é Benji quem rouba a cena e oferece toda a tração para o enredo avançar adiante e deixá-lo mais suculento para o público. Kieran Culkin está na melhor fase de sua carreira, estrelou com louvor uma das séries da HBO mais bem-sucedidas dos últimos tempos, “Succession” (2018-2023), interpretando o patologicamente narcisista Roman Roy, papel que lhe rendeu o Emmy de Melhor Ator em Série de Drama. Aqui, ele tem a oportunidade de construir um personagem magnético e à altura de seu talento, talvez seu melhor papel em filmes desde “A Estranha Família de Igby” (2002).
O filme também é repleto de cenas marcantes, como um jantar do grupo de turistas em uma taverna que sai totalmente fora de controle, ou uma cena singela em que David e Benji tentam subir na cobertura do hotel para compartilhar um baseado e têm um belo diálogo que, sem dúvida, reforça a química improvável entre os dois atores. Outra sequência tocante é quando o grupo visita o Campo de Concentração de Majdanek, momento em que o filme investe no silêncio dos personagens ao transitarem por câmaras de gás e crematório – a avó dos meninos teria sobrevivido ao Holocausto por uma “sucessão de milagres”, como ela dizia quando estava viva.
Há chance de “A Verdadeira Dor” ter um reconhecimento merecido na temporada de premiações que está por vir nos próximos meses, especialmente para Kieran Culkin como Melhor Ator Coadjuvante e para Eisenberg como Melhor Roteiro Original. Seria um ótimo reconhecimento para este projeto tão pessoal para Jesse Eisenberg, que ainda contou com o apoio financeiro de sua amiga Emma Stone como uma das produtoras da obra.