“Jovens Amantes”: astro francês Louis Garrel estrela drama sobre altos e baixos de estudantes de uma prestigiada academia de artes cênicas | 2025

Indicado a sete categorias de uma das premiações mais importantes da França, o Prêmio César, “Jovens Amantes” (2023) é dirigido e roteirizado por Valeria Bruni Tedeschi com base em suas próprias experiências no Théâtre des Amandiers, uma prestigiada escola de artes cênicas fundada pelo célebre Patrice Chéreau nos arredores de Paris. O astro francês Louis Garrel interpreta o temperamental e pavio curto Chéreau, enquanto acompanhamos o ponto de vista da estudante iniciante Stella (Nadia Tereszkiewicz).
A medida que vários jovens se digladiam em audições intensas para integrar um seleto grupo de estudantes escolhidos a dedo para entrar e se manter na prestigiada escola, histórias paralelas que abordam aborto, vícios e liberdade sexual pipocam na tela. Stella desenvolve uma paixão obsessiva por um estudante chamado Etienne (Sofiane Bennacer), que, por sua vez, se afunda em uma espiral de destruição pelas drogas. Enquanto o filme muitas vezes se dedica a descortinar as dinâmicas de teste e ensaios na escola, a câmera de Tedeschi também passeia pelos bastidores e coxias do teatro para mostrar os hormônios em ebulição daqueles aspirantes a atores.
Além de experimentarem “sexo, drogas e rock n’ roll”, o filme explora sérias consequências na vida dessas personagens devido ao estilo de vida que levam e toca, por exemplo, em temas como a AIDS. Em determinado momento, um dos atores de 19 anos descobre que sua esposa é portadora do vírus HIV após o parto de seu filho, o que leva a uma reação em cadeia de desespero no grupo. Os jovens passam a rastrear quem dormiu com quem e quem pode ter contraído o vírus. Como o filme se passa na década de 80, o tema mostra-se totalmente pertinente ao explorar a sombra da AIDS naquele período.
O elenco é um dos pontos altos do filme. Nadia Tereszkiewicz, com seus olhos marcantes, ganha destaque ao interpretar Stella, construindo com autenticidade a complexidade emocional da personagem. Louis Garrel faz bom uso de seu charme parisiense, trazendo um tom sedutor e misterioso, mas ao mesmo tempo ameaçador. Suas cenas pintam um Patrice Chéreau com atitudes violentas para com seus colegas, implacável em mesas de ensaio e muitas vezes inconveniente com quem não cedia aos seus desejos. O restante do grupo de atores também entrega interpretações marcantes que ajudam a construir a química coletiva, trazendo à tona as dores e euforias dessa fase de descobertas da juventude.
Tecnicamente, “Jovens Amantes” apresenta uma estética que capta com delicadeza a época, utilizando uma paleta de cores nostálgica e uma direção de arte bem feita. A câmera tem um enfoque quase íntimo, permitindo ao espectador observar os personagens de perto, em suas incongruências, fragilidades e momentos de explosão ou desequilíbrio.
Pena que Valeria Bruni Tedeschi tenta costurar tantos tópicos “cabeludos” e acaba soando superficial no final das contas. O roteiro não consegue amarrar tantas tramas paralelas que ocorrem com o grupo e fragiliza a história do casal principal: Stella e Etienne. Apesar desses escorregões, Tedeschi mostra-se uma diretora de pulso e torna as cenas de ensaios e audições dos atores palatáveis, sem que soem entediantes ou arrastadas. Talvez, por ser uma obra semibiográfica, a diretora conseguiu captar com propriedade a vida frenética daqueles que respiram arte no início de suas juventudes.
É um belo mergulho no mundo daqueles que aspiram viver intensamente da arte de representar, jogando-se de corpo e alma em um ofício que permite ser um e ser muitos.