“Elio”: Pixar usa cores e formas para criar uma sensível parábola sobre incompreensão | 2025
Eu nunca tive um amigo

Um dos filmes mais subestimados dos anos 2010 é “John Carter: Entre Dois Mundos”, lançado em 2012 por uma Disney que, nitidamente, não soube vender o excelente produto que tinha em mãos. Não há nenhuma relação direta entre ele e “Elio”, o filme que a Pixar lançou aos cinemas em 2025, exceto pelo fato de que ambos vão para outro planeta e lá passam eles a serem os alienígenas. Mas vale destacar uma diferença: enquanto Carter foi contra a própria vontade, Elio almejava essa jornada. O menino de onze anos sonhava em ser abduzido, e assim o queria porque não entendia a si mesmo como pertencente a esse mundo; não, ele não se sentia um ET, o que havia era uma sensação constante de deslocamento.
De forma ironicamente trágica, o filme é tão deslocado quanto seu protagonista. Lançado em uma época dominada por outros títulos (como ocorreu com “Missão Impossível: O Acerto Final”), o filme chegou aos cinemas tendo que rivalizar com outro gigante da Disney, o live-action de “Lilo e Stitch”. Em bilheteria, “Elio” já é a pior abertura da Pixar em toda sua história, e promete ser um fracasso comercial gigantesco caso o marketing boca a boca não ocorra – o que é uma pena, de verdade, porque o filme é corajoso, inventivo e, de um jeito bem próprio, emotivo também. A Pixar assumiu um risco e tanto ao colocar em tela tantas cores e formas “pouco agradáveis” visualmente, dando justiça à diversidade alienígena que ela mesma propôs em sua nova trama. Com algumas boas referências a clássicos enigmáticos de outros mundos, o público adulto se diverte; e com momentos de ternura e auto aceitação, o público infantojuvenil tem algumas de suas ansiedades acalentadas.
“Elio” tem todos os méritos de uma obra original em cada erro e acerto que comete. A jornada de redescoberta que promove um novo olhar a partir de uma amizade improvável é cativante, porém fica nítido que o resultado final ficou levemente aquém de tantas outras obras originais que o estúdio despontou em outras ocasiões. É um filme como “Elementos”, em dada medida; criativo, porém pouco inventivo. Contudo, com coração. Embora se arrisque no visual, joga muito no seguro em seu roteiro. Apesar disso, não está entre os menos excelentes do selo da luminária saltitante – só é mais uma vítima do descaso do marketing da Disney, que assim como fez com a aventura de John Carter, também desistiu de qualquer investimento em divulgação honesta para a história de Elio. Fica a torcida para que não caia em um limbo e que o aparente fracasso comercial nos cinemas não seja um fator desmotivacional para que só se invista em sequências de franquias já consagradas e bem estabelecidas e se abdique das novas narrativas.
