⚠️ VEJA OUTRAS CRITICAS DO PAPO EM NOSSO ACERVO (SITE ANTIGO).

ACESSAR SITE ANTIGO
PitacO do PapO

“Love”: segunda parte da trilogia norueguesa embarca o espectador em viagem possibilitadora das escolhas individuais | 2025

“Love” compõe o tríptico de filmes realizados por Dag Johan Haugerud, que tenta analisar as relações humanas em contexto bem específico, a Oslo do início do século XXI, questionando conceitos e padrões comportamentais forjados por uma sociedade que, embora figure entre as mais desenvolvidas do mundo, ainda reproduz ideias limitadoras que emperram a plenitude de seus cidadãos.

Em estratégia semelhante à apresentada em “Sex”, seu antecessor, “Love” se abre para o espectador com uma cena que abala a noção de masculinidade. Nela, a urologista Marianne (Andrea Bræin Hovig) dá a notícia a um paciente que a retirada de sua próstata cancerosa trará como consequência a sua infertilidade e uma provável disfunção erétil. Após esse momento em que a frieza hospitalar é contraposta pelo olhar mais empático do enfermeiro Tor (Tayo Cittadella Jacobsen), a narrativa colocará o espectador entre as idas e vindas emocionais desses dois personagens centrais, uma mulher e um homem homossexual, tendo a cidade – repare na valorização de prédios ainda em construção – como elemento possibilitador.

Na sua pegada rohmeriana, Haugerud volta a apostar em longos diálogos, só que agora bem mais decupados, fornecendo-nos protagonistas desarmados na condução de suas vivências e, por isso, capazes de gerar uma maior aproximação. É possível dizer também que a câmera do realizador está um pouco mais “comportada”, privilegiando agora o plano e o contra plano aliados a suaves panorâmicas da capital norueguesa. Além disso, um outro aspecto que confere uma pegada estética mais convencional é o uso de uma trilha sonora sem os sintetizadores que conferiam uma certa estranheza aos dilemas vividos pelos desentupidores de chaminés em “Sex”.

Dessa forma, a produção segue a linha temática do tomo anterior, abordando questões como liberdade sexual, fidelidade e culpa através de conversas reveladoras. Volta a chamar a atenção a naturalidade impressa no trato de assuntos que poderiam facilmente gerar estridências em outras culturas, sobretudo naquelas em que o não-dito impera. Nesse sentido, a balsa onde boa parte dos encontros acontece funciona como uma bela metáfora para uma fluidez tranquila e para a transitoriedade dos princípios que regem nossas vidas.

Acompanhando as viagens de Marianne e Tor, que alternam encontros furtivos e ligações mais profundas, “Love” parte da mesma provocação acerca da maneira como os homens se enxergam para, logo em seguida, navegar pela placidez de águas bem mais afastadas dos turbilhões de uma masculinidade frágil que se baseia naquilo que há mais primitivo em nossa espécie. Límpida como as imagens de um país com elevado IDH, a visão madura apresentada tanto pela médica quanto pelo enfermeiro em relação aos rumos de suas embarcações afetivas, mesmo que em cenário extremamente propício, não deixa de ser inspiradora.

Alan Ferreira

Professor, apaixonado por narrativas e poemas, que se converteu ainda na pré-adolescência à cinefilia, quando percebeu que havia prendido a respiração ao ver um ônibus voando em “Velocidade Máxima”. Criou o @depoisdaquelefilme para dar vazão aos espantos de cada sessão e compartilhá-los com quem se interessar.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo