“Madeleine à Paris”: doc apresenta o multiartista brasileiro Roberto Chaves enquanto celebra suas raízes | 2025

Diretamente do recôncavo para os palcos de Paris o documentário sob a batuta de Lilliane Mutti (“Miúcha, a Voz da Bossa Nova”) nos apresenta uma persona pulsante e inquieta em sua arte. Robertinho Chaves, um multiartista baiano que conseguiu trazer toda sua cultura e baianidade para a cidade luz , lugar onde até então ele se via como um peixe fora d’água. “Madeleine à Paris”, que chega essa semana aos cinemas, se torna um projeto plural, discursando sobre vários assuntos, assim como seu personagem, um artista que resiste ao amplificar não somente sua arte mas também sua ancestralidade.
Robertinho, um artista negro, é o orixá do desfile afro-brasileiro da Lavagem de la Madeleine em Paris durante o dia, mas à noite ele encarna um dos Arlequins no Cabaré Paraíso Latino. A narrativa mostra como esse brasileiro queer e andrógino, filho de santo do Candomblé, há mais de 20 anos reúne quase 60 mil pessoas na capital francesa, liderando o famoso ritual de lavagem dos degraus da igreja da Madeleine. Uma transição onde o feminino e o masculino, o sagrado e profano se entrelaçam, causando orgulho em alguns, e desconforto em outros.
O destaque merecido para esse artista resistente e desbravador é a cereja do bolo de “Madeleine à Paris”: ao entrar na sua intimidade, quando ele retorna para Santo Amaro da Purificação, sua cidade natal, as lentes de Liliane Mutti nos trazem pra mais perto de Robertinho, revelando o apego às suas raízes e a forma como encara as missões que recebe. A partir daí entendemos a razão da ousadia de sua empreitada – o de levar para as escadarias da Igreja de la Madeleine, um dos templos mais curiosos de Paris, cujo design é muito parecido ao dos templos clássicos da Antiga Grécia, a Lavagem das escadarias da Igreja do Nosso Senhos do Bonfim, ritual que é realizado na icônica igreja na Bahia há mais de um século.
O documentário explora as facetas de Roberto Chaves – um Baiano radicado em Paris há 33 anos e graduado em relações internacionais – enquanto artista artista plural e carismático, aborda seu relacionamento com a religião que escolheu viver como verdade e também sua sexualidade. Robertinho, como gosta de ser chamado, é uma das tantas figuras espalhadas por esse país, resilientes, e que são resistência em meio à tanto preconceito e intolerância religiosa. Liliane Mutti, que assina também o roteiro, propõe uma espécie de road movie afro queer e coloca essa personalidade diante do público de uma forma muito atraente e respeitosa. Como bem disse Liliane certa vez: “a alegria é revolucionária”… e nada melhor que revelá-la ao espectador através do sorriso largo e do talento incontestável de Roberto Chaves.