“Sing Sing”: filme é celebração à arte como agente de transformação | 2025

Esqueçam os tradicionais dramas carcerários, mesmo os de maior sucesso como “Um Sonho de Liberdade” (1994), “À Espera de um Milagre” (1999) ou “Fuga de Alcatraz” (1979). “Sing Sing” desafia as convenções desse popular subgênero, desviando de narrativas, quase sempre centradas em esperança, injustiça ou vingança. Com o teatro como ferramenta principal, o filme explora a arte como um poderoso agente de transformação para os detentos, enfatizando o impacto coletivo nesse processo criativo.
Na trama, acompanhamos John “Divine G” Whitfield (Colman Domingo), um presidiário que encontra um novo sentido para sua vida ao ingressar em um grupo de teatro na prisão. Sob sua liderança, o grupo se torna mais unido, transformando o palco em um espaço de expressão e conexão. A dinâmica muda com a chegada de Divine Eye (Clarence Maclin), um novato cuja presença provoca o grupo a explorar territórios inusitados.
O filme não apenas celebra o teatro, mas também o integra de forma orgânica à estrutura narrativa. Isso transparece nos diálogos, que exibem uma cadência deliberada, marcada por pausas calculadas e discursos cuidadosamente elaborados — uma abordagem que contrasta com narrativas mais naturalistas. Outra escolha é o modo como o palco é retratado. Durante as performances dos detentos, a câmera circula entre os atores, explorando diversos enquadramentos, mas nunca desviando a atenção para a plateia. O foco recai inteiramente sobre o grupo e a intensidade de sua expressão artística, destacando as performances como o verdadeiro espetáculo.
A ambientação é propositalmente limitada a poucos cenários, como o pátio, as celas e o vasto galpão onde os detentos ensaiam e se apresentam. A geografia da prisão é quase irrelevante; se não fosse pelos planos de estabelecimento, sua dimensão passaria despercebida. Guardas, oficiais, advogados e demais funcionários têm participações meramente figurativas ou falas breves, reforçando o protagonismo do coletivo.
Entretanto, o filme apresenta um movimento que, em certo nível, “trai” a perspectiva proposta inicialmente. Trata-se das longas sequências de close-ups, claramente desenhadas para destacar atuações individuais e que acabam flertando com o que se convencionou chamar de Oscar bait. Algumas cenas parecem deliberadamente concebidas para compor aqueles clipes de apresentação típicos de premiações. Embora isso não seja, por si só, um problema, essa estética acaba destoando da abordagem geral do longa, que até então priorizava o grupo como um organismo único e indivisível.
Dirigido por Greg Kwedar, “Sing Sing” é inspirado no programa real Rehabilitation Through the Arts (RTA) e reúne ex-detentos que participaram do projeto na prisão homônima de Nova York. Entre eles, Clarence Maclin chama a atenção com uma atuação coadjuvante que impressiona pela autenticidade e profundidade emocional. Sua performance, rica em nuances, complementa e, por vezes, rivaliza com o magnetismo de Colman Domingo. Juntos, eles oferecem interpretações que não apenas sustentam, mas elevam o filme, transformando-o em uma obra profundamente humana e envolvente.