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“Marcello Mio”: Comédia existencialista traz filha de Marcello Mastroianni incorporando o pai em divertida homenagem ao ícone do cinema italiano | 2024

Imagine que certo dia a filha de Marcello Mastroianni decida viver como o pai, vestir-se como pai, falar como o pai e, até mesmo, respirar como o pai. E tudo isso de uma maneira tão convincente que sua mãe e seus amigos mais próximos embarcam nesse devaneio e passam a suspeitar que o fantasma do grande ator italiano esteja novamente neste plano. É a partir dessa fantasia que Christophe Honoré nos brinda com uma comédia existencialista, repleta de metalinguagem, que parte de uma premissa bastante intrigante.

O elenco traz Chiara Mastroianni e Catherine Deneuve, que interpretam elas mesmas. Chiara é fruto do casamento entre Mastroianni e Deneuve. Ela cresceu cercada pela aura poderosa dos pais, estrelas do cinema europeu e mundial. A escolha da carreira de atriz inevitavelmente rende comparações. “Ser comparada a meus pais não me matou”, declarou. Seu papel nesse filme é quase catártico. Mas não se trata de uma história carregada por questões psicológicas complexas, pelo contrário, a comédia como gênero narrativo parece ter sido a escolha perfeita para imprimir leveza à trama.

O filme inicia com a gravação de um comercial em que Chiara Mastroianni é contratada para participar de um comercial que reconstitui a sequência icônica na Fontana Di Trevi do clássico “La Dolce Vita” (1960). Na ocasião, ela interpreta Anita Ekberg, que dança nas águas do monumento, gritando o nome “Marcello”. Após as filmagens, Chiara tem uma epifania existencial na qual enxerga a imagem do pai no espelho. A partir daí ela resolve reviver e/ou assumir a personalidade de Mastroianni, vestindo-se e comportando-se como ele.

O impacto desse “disfarce” provocará sensações bastante particulares em seu círculo íntimo, sobretudo em sua mãe, Catherine Deneuve, que vai do espanto a evocações de reminiscências envolvendo episódios prosaicos de sua vida em comum com Mastroianni. É como se o filme nos convidasse a compartilhar da intimidade da família, de seus momentos longe do tapete vermelho e do mundo de aparências que envolve os grandes astros do cinema.

A catarse individual de Chiara se transforma numa grande sessão de terapia coletiva, compartilhada entre seus amigos e familiares e com o público–o que é um prato cheio para os psicanalistas -, convidando a todos a participar de seu jogo de redescoberta, levada por suas memórias, que a reconectam ao pai e a auxiliam a encontrar a própria identidade.

Além de Chiara e Deneuve, o elenco de apoio também é todo composto de atores interpretando seus próprios papéis e que conviveram com Marcello Mastroianni. Mas a impressão que se tem é a de que o filme só tem isso a oferecer: a reunião de meia dúzias de atores franceses reconhecíveis e uma temática freudiana que se apresenta de modo refratário para quem desconhece a obra e a relevância do ator homenageado. “Marcello Mio” é  uma obra feita por um grupo de amigos para trazer uma lembrança doce de um ícone do cinema italiano.

Vitor Pádua

Advogado que expia o juridiquês com a paixão pela fotografia e pelo cinema.

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