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“Jurado Nº 2”: Clint Eastwood, lenda viva do cinema, aborda culpa e justiça em um provável último ato | 2024

Crime e Castigo, publicado em 1866, é um marco da literatura russa, reconhecido por sua pioneira exploração da psique humana. A análise da culpa, da dúvida e da moralidade por meio de Raskólnikov, protagonista do romance, abriu caminhos para um exame mais denso dessas questões na literatura e em outras artes em geral. Embora “Jurado Nº 2” não seja uma adaptação ou releitura direta, o legado do clássico de Dostoiévski é perceptível, e o paralelo entre os protagonistas de ambas as narrativas, plenamente plausível.

A trama acompanha Justin Kemp (Nicholas Hoult), um jovem pai de família convocado para servir como jurado em um julgamento de assassinato de grande repercussão. O que inicialmente parece ser um caso comum logo se transforma em um intenso dilema moral, quando o protagonista descobre conexões inesperadas que lançam dúvidas sobre sua própria inocência.

Clint Eastwood, aos 94 anos, mantém-se fiel ao estilo clássico que caracteriza sua carreira, e “Jurado Nº 2” não foge a essa tradição. É fascinante observar como sua abordagem cuidadosa e visualmente econômica dá vida a questões complexas. Assistir a um filme de Eastwood é como acompanhar um jogador profissional de Tetris: por mais diferentes que sejam as peças que caem, elas sempre se encaixam de forma precisa. Nesse filme, o cineasta explora com profundidade o sentimento de culpa, que permeia toda a narrativa e se torna quase tangível ao espectador. Como em Dostoiévski, o peso emocional emerge de uma construção cuidadosa das camadas humanas do protagonista. O dilema moral é outro ponto de destaque, funcionando como um convite não apenas à reflexão, mas também ao confronto direto com noções de responsabilidade pessoal e dever coletivo. O filme não se limita a apresentar uma moralidade superior, mas instiga o espectador a construir sua própria leitura de justiça.

Possivelmente, “Jurado Nº 2” marca o capítulo final da carreira de Clint Eastwood, um dos cineastas vivos com maior legado na história do cinema. Apesar do trabalho magistral, é lamentável que o filme não tenha ampla distribuição nos cinemas, sendo posto, meio que de qualquer forma, diretamente no catálogo da Max. Contudo, mesmo com essa lamentável ressalva, há muito a celebrar. Se este realmente for o adeus de Eastwood, ele se despede consolidando seu nome entre os maiores da história da sétima arte, com uma filmografia que moldou e transcendeu gerações.

Rafa Ferraz

Engenheiro de profissão e cinéfilo de nascimento. Apaixonado por literatura e filosofia, criei o perfil ‘Isso Não é Uma Critica’ para compartilhar esse sentimento maravilhoso que é pensar o cinema e tudo que ele proporciona.

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