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Madame Durocher: Drama narra a emocionante história da primeira parteira reconhecida pela Academia Imperial de Medicina | 2024

Festival Varilux

Um dos grandes destaques do Festival Varilux de Cinema Francês esse ano tem haver com o Brasil. É que a coprodução Franco-Brasileira nos conta sobre uma imigrante francesa que criou raízes no Brasil, se tornando uma das mulheres mais importantes de seu tempo. Uma menina que cresceu numa família com muitas mulheres decidiu enfrentar todo um sistema patriarcal para se tornar referência na medicina. O drama sob a direção da dupla Dida Andrade e Andradina Azevedo é uma super produção que chega agora até o público brasileiro, que acredito desconhecer essa curiosa história, assim como eu desconhecia.

A produção acompanha Madame Durocher, a primeira mulher a receber o título de parteira no Brasil e a ser reconhecida como membro da Academia Imperial de Medicina no século XIX. Essa foi Marie Josephine Mathilde Durocher (Jeanne Boudier na juventude e Sandra Corveloni na maturidade), cuja trajetória começa em 1816, quando a jovem francesa, aos 7 anos, chega com sua mãe (Marie-Josée Croze) no Brasil, uma modista que abre um pequeno estabelecimento que de uns tempos pra cá não está indo bem. Após a morte de sua mãe e a perda de seu marido, Pedro (Armando Babaioff),  Marie Durocher resolve se dedicar e aprender a função de parteira. É a partir daí que entra no curso de Medicina do Rio de Janeiro e torna-se a primeira mulher a se diplomar nessa área.

Essa  jornada que encontra barreiras misóginas o tempo todo, não apenas desafia as normas sociais da época, mas também inspira futuras gerações de mulheres a seguirem seus sonhos e aptidões, enfrentando preconceitos e superando adversidades em um mundo que acha que mulher só fica bem em casa, cuidando da família. A dupla de atrizes que encarna Durocher, tanto na primeira fase quando na segunda, consegue imprimir esse sentimento: a  verdade e a perspicácia dessa mulher que viveu à frente de seu tempo.

“Madame Durocher” é uma cinebiografia que o Brasil precisa conhecer, não só por mostrar uma dessas histórias que a história tenta esconder, mas também por seu alto conteúdo político, que, além de esmiuçar o preconceito e a misoginia muito comuns à época, retratados sobretudo no ambiente acadêmico,  o filme também retrata um Brasil onde a escravidão era implacável e o recorte de Andrade e Azevedo introduz um cruzamento de realidades que enriquecem o roteiro enquanto obra feminista, como a relação entre Durocher e Clara(Isabel Fillardis), escrava que acompanha a Parteira até o fim de sua vida, mesmo após ser liberta.

É bem verdade que o roteiro tem seus momentos menos brilhantes com diálogos expositivos e óbvios, mas ainda assim, por tudo que essa coprodução representa, com sua exuberante fotografia, também a cargo de Andradina, um elenco afinado em sua grande maioria e por sua produção irrepreensível, “Madame Durocher” merece destaque nas salas de cinema. Essa incrível história de uma mulher que não só lutou para ser ela mesma mas também trabalhou pelo bem do outro é uma das trajetórias de empoderamento e força feminina das mais bonitas que já vi. A saga da primeira parteira reconhecida pelo conselho de medicina é apenas só uma das lutas que milhares de mulheres enfrentariam para defender suas identidades e carreiras até os dias de hoje.

Rogério Machado

Designer e cinéfilo de plantão. Amante da arte e da expressão. Defensor das boas causas e do amor acima de tudo. Penso e vivo cinema 24 horas por dia. Fundador do Papo de Cinemateca e viciado em amendoim.

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