“Saturday Night – A Noite que Mudou a Comédia”: Gênese da série da NBC ganha adaptação afiada de Jason Reitman | 2024
Já em sua 50ª Temporada na emissora de TV NBC, o Saturday Night Live (SNL) talvez seja o programa de humor norte-americano mais longevo da história do país. Não só a serie exerce uma influência enorme na população do país com suas esquetes ora afiadas ora pastelões, mas ainda transita com vigor especialmente no período eleitoral, quando escolhem a dedo comediantes para encarnarem políticos da vez como é o caso de Maya Rudolph e sua interpretação impecável de Kamala Harris e James Austin Johnson impagável como Donald Trump. Conhecido carinhosamente como “SNL”, a série de TV é um dos programas obrigatórios de sábado à noite nos Estados Unidos, e é considerado uma escola para atores humoristas que querem se projetar em Hollywood, vide casos como o de Will Ferrell, Kristen Wig, Tina Fey, Damon Wayans, Dan Aykroyd e muitos outros…
O SNL estreou pela primeira vez na grade de programação da NBC, em 11 de Outubro de 1975, e é justamente sobre esse momento que antecede a primeira transmissão na TV, que trata-se “Saturday Night – A Noite que Mudou a Comédia” (2024), parte da “Perspectiva Internacional” da 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para ser mais preciso, o filme se passa nos 90 minutos que antecedem a estreia do piloto na TV, o que dá um caráter quase de reality show ao filme. O diretor Jason Reitman (de “Amor sem Escalas” e “Obrigado por Fumar”) consegue imprimir ritmo e humor rasgado durante todo o filme, passeando pelos cenários do programa, bastidores e tensões entre elenco, produtores e empresários da NBC. O ceticismo da NBC somado ao fato de que o programa seria transmitido Ao Vivo pesava para tudo dar errado, mas a visão do protagonista da obra, o criador do SNL Lorne Michaels (Gabriel LaBelle), prova o contrário, já que ele acreditava no potencial do formato e no elenco de feras da comédia que ele tinha nas mãos.
O roteiro passeia por vários núcleos da produção do SNL e o público tem a oportunidade de entender um pouco as engrenagens de uma emissora de TV na década de 70 e a difícil tarefa de comandar um elenco que entra e sai da tela demonstrando comportamento errático e instável. Apenas Lorne Michaels tinha o punch para segurar tanta vaidade e colocar de pé seu projeto de vida no ar. As caracterizações do elenco são inspiradíssimas, com destaque para o ator Cory Michael Smith, que interpreta Chevy Chase, Matt Wood, como o descontrolado John Belushi, e Nicholas Braun, que faz dupla interpretação ao encarnar o criador dos Muppets Jim Henson e o bizarro comediante Andy Kaufman.
No entra e sai de atores em cena, há várias participações especiais que adornam o filme como um todo, vide a presença marcante como sempre de Willem Dafoe, Tracy Letts e J.K. Simmons. Sem dúvida, além do ótimo roteiro escrito por Jason Reitman e seu fiel escudeiro Gil Kenan, Saturday Night é fruto do talento de seu elenco, o ensemble como um todo, que faz a obra funcionar e fluir de forma absolutamente irresistível. É preciso mencionar também a parte estética do filme, com figurinos que evocam de forma eficiente os anos 70 e a cinematografia apuradíssima de Eric Steelberg. Reitman filmou a obra em 16mm bem ao estilo Cinema Vérité, com forma quase documental ao adotar câmera de mão, sons ambiente e um jeito muito natural de capturar as performances de seu elenco.
Saturday Night estreou no Telluride Film Festival e teve seu lançamento internacional no Festival de Toronto, o que o colocou na rota das Mostras e Festivais do final de ano. Se for lembrado nas principais premiações do ano que vem, pode certamente constar na lista de Melhor Roteiro Original. A última cena do filme é de deixar qualquer fã de SNL arrepiado ou, no mínimo, com um baita sorriso no rosto.