“Lisa Frankenstein”: Terror adolescente revisita clássico de Mary Shelley em clima oitentista | 2024
“Frankenstein”, clássico da escritora britânica Mary Shelley sempre ganhou boas adaptações pro cinema com diferentes roupagens, tradicionais, cômicas e animações (“Frankenstein”, “O Jovem Frakenstein”, “Frankenweenie”, “Frankenstein de Mary Shelley” e outros) e serve de inspiração pra outras tantas produções ( “Pobres Criaturas”, “Penny Dreadful”). Essa história agora ganha uma versão teen excelente e muito divertida em “Lisa Frankenstein”, uma grata surpresa no catálogo do Prime Video.
A trama se passa em 1989, onde conhecemos a adolescente Lisa, uma garota que sofre por uma tragédia do passado, por ter uma madrasta horrível, uma meia-irmã linda e líder de torcida e por não ser muito popular na escola ; e por isso ela vive solitária, lendo e escrevendo num cemitério abandonado e sinistro. Um dia, acidentalmente, ela ressuscita um cadáver vitoriano pelo qual ela suspirava e, inusitadamente, o reconstrói na máquina de bronzeamento artificial que tem na garagem. O defunto do garoto vira um príncipe encantado às avessas, um zumbi bem fofo com quem ela vai cometer atrocidades, fazendo explodir seu lado sombrio que estava sufocado.
O longa é dirigido pela Zelda Williams, filha do saudoso Robin Williams, e tem o roteiro de Diablo Cody, vencedora do Oscar por “Juno” e “Garota Infernal” e que também escreveu o ótimo “Tully”. Elas costuraram vários gêneros com bastante competência: “Lisa Frankenstein” é um “coming of age” pois acompanha a jornada de amadurecimento de Lisa, é um romance bizarro da adolescente com o zumbi, e também tem elementos de terror e comédia numa combinação que resulta numa deliciosa Sessão da Tarde.
A estética oitentista, com seus exageros, cabelões ultra armados, maquiagem over, ombreiras, babados e toda cafonice da década estão presentes, e pra quem viveu, é uma gostosa viagem no tempo, ao som de uma trilha sonora sensacional, com hits da época, como punk e música clássica. Há algumas ótimas inserções de animações em preto e branco ao estilo do cinema expressionista alemão que ilustram bem os devaneios da protagonista Lisa. A atmosfera tem uma energia caótica e sombria à la Tim Burton, até mais que as próprias obras do cineasta. As referências são escancaradas e é, para os cinéfilos, bem divertido identificá-las: “Natural Born Killers”, “Mulher Nota Mil”, “Edward Mãos de Tesoura” e claro, “Frankenstein”.
“Lisa Frankenstein” questiona com muito bom humor a natureza humana e o “complexo de Deus”, literalmente no caso de Lisa “criar” um ser humano ao seu bel prazer; e trata com leveza o viés adolescente de achar que o mundo gira ao redor do seu umbigo. Esse é um filme para o qual os mais puristas irão torcer o nariz ao comparar ao clássico Frankenstein, porém, aos que querem apenas diversão despretensiosa e de qualidade, ele é uma ótima escolha.