“Clube dos Vândalos” : Inspirado no clássico “Sem Destino”, longa atualiza a imagem do rebelde sem causa | 2024
Dirigido por Dennis Hopper e lançado em 1969, “Sem Destino” (Easy Rider) foi um filme icônico do movimento da contracultura norte-americana. O longa aborda temas como liberdade, hipocrisia da sociedade americana, a busca por significado em um mundo em rápida transformação e a luta entre o conservadorismo e o espírito livre da geração jovem da época. O filme solidificou a imagem dos motociclistas como ícones de rebeldia. Uma imagem que perdura até hoje. “Clube dos Vândalos” carrega muito do legado de Hopper e mesmo sem apresentar elementos inovadores nem tendo a mesma importância cultural, atualiza questões relevantes da temática, além de reunir um elenco carismático e talentoso.
Na trama, acompanhamos a ascensão de um clube de motociclistas sob a perspectiva de Kathy (Jodie Comer), esposa de Benny (Austin Butler), um dos membros mais proeminentes do grupo e melhor amigo de Johnny (Tom Hardy), o líder. Porém, se a formação inicial tinha como princípio a união de forasteiros locais pela paixão por motos e respeito ao seu líder, com o passar dos anos, o grupo se torna mais violento e ganancioso, transformando-se em uma perigosa gangue.
Assim como sua principal referência, o longa carrega uma narrativa tipicamente masculina. Contudo, traz para uma perspectiva mais atual o caráter destrutivo e, em certa medida, ridículo dessa masculinidade. O filme é baseado no livro “Bikeriders” de Danny Lyon, onde ele documentou, através de fotos e entrevistas, a vida de um grupo de motoqueiros nos anos 1960. Interpretado por Mike Faist, Danny é incorporado à narrativa, e assistimos a algumas dessas entrevistas. No entanto, o fio condutor está nos relatos que ele coletou de Kathy, esposa de Benny. A escolha de contar a história sob a perspectiva feminina é interessante, pois essa distância imposta por Kathy permite um envolvimento mais crítico e até certo ponto, reflexivo.
Entretanto, se Jodie Comer é merecidamente um grande destaque, os demais não ficam atrás. A começar por Tom Hardy, que dá vida ao líder e fundador do clube. Johnny é um homem comum, caminhoneiro de profissão, marido e pai, cuja motivação é pura e simplesmente a paixão pelo motociclismo. Hardy incorpora essa figura de respeito sem elevar o tom, transmitindo serenidade e convicção nas suas decisões e no jeito como lida com conflitos, características dignas de um verdadeiro líder. Sua faceta muda apenas quando se aproxima e demonstra real admiração por Benny, vendo nele tudo aquilo que gostaria de ser. Isso nos leva a Austin Butler, o queridinho de Hollywood do momento, que aqui constrói a persona de Benny de maneira menos verborrágica e mais performática. Misterioso, de poucas palavras e cheio de atitude, Butler convence como um rebelde dessa geração que faria até Marlon Brando ter orgulho.
O filme segue como uma estrada em linha reta e, de forma irônica, patina justamente nas curvas. Isso porque a atmosfera e o ritmo mantêm uma sequência muito homogênea. É divertido passar um tempo com esses rapazes cheios de histórias e carisma, mas os conflitos carecem de senso de urgência. Esse clima morno se mantém até o terço final, quando o filme ensaia um clímax. Clímax esse que chega de maneira anunciada, privando-se do elemento surpresa e, portanto, mantendo a temperatura morna. Não chega a ser uma grande perda nem grave demérito, mas, ao fim, soa como apenas uma história banal, de bom envolvimento enquanto dura, mas igualmente de fácil esquecimento quando se encerra.