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“Wicked: Parte 1”: Adaptação pro cinema guarda a tradição dos grandes musicais, mas tem discurso altamente político | 2024

Na Broadway, quando estreou em 2003, ou seja, há mais de 20 anos,  o musical “Wicked” foi duramente criticado. Mas a obra da autora Winnie Holzman é desses trabalhos que vão ganhando volume conforme o tempo passa e se redimindo diante de público. Canções como “Defying Gravity”, por exemplo, fazem parte de um seleto panteão de músicas que ultrapassaram as paredes do teatro, caíram no gosto popular e hoje fazem parte da cultura pop. O ano é 2024 e a aguardada adaptação para os cinemas chega com ares de superprodução e fazendo justiça ao passado vacilante da montagem para os palcos.

Acaso você não saiba,  “Wicked: Parte 1”  é o prelúdio da famosa história de Dorothy e do Mágico de Oz, onde conhecemos a história não contada da Bruxa Boa e da Bruxa Má do Oeste. Nessa aventura cheia de magia, conheceremos Elphaba (Cynthia Erivo), uma jovem do Reino de Oz incompreendida por causa de sua pele verde incomum e por ainda não ter descoberto seu verdadeiro poder. Sua rotina é tranquila e pouco interessante, mas ao iniciar seus estudos na Universidade de Shiz, seu destino cruza o caminho de Glinda (Ariana Grande), uma jovem popular e ambiciosa, nascida em berço de ouro, que só quer garantir seus privilégios e ainda não conhece sua verdadeira índole. As duas iniciam uma inesperada amizade; no entanto, suas diferenças, como o desejo de Glinda pela popularidade e poder, e a determinação de Elphaba em permanecer fiel a si mesma, mudam a maneira como os habitantes de Oz as enxergarão.

John M. Chu, que esteve à frente da febre “Podres de Ricos” e dirigiu inclusive um musical em 2020, “Em Um Bairro de Nova York” , encara aqui o seu maior projeto : agradar um séquito de fãs, que, se não são fiéis ao musical da Broadway, têm “O Mágico de Oz” (1939) como um dos filmes  favoritos da vida. As escolhas do diretor, desde o elenco afinado, passando pelo roteiro redondinho mesclando drama e humor em doses corretíssimas, impulsionado por canções absolutamente contagiantes fazem de “Wicked: Parte 1” um dos grandes musicais já produzidos em Hollywood. Outro detalhe que vale pena ser citado, é a cópia em 3D, que, sobretudo na primeira parte, ajuda a destacar detalhes preciosos, além de ressaltar o vasto colorido tanto da Cidade das Esmeraldas como da Escola de Magia comandada pela enigmática Madame Morrible (Michelle Yeoh).

Engana-se quem pensa que “Wicked” é uma obra ingênua, que  só faz nos aproximar das Bruxas mais poderosas de Oz. É claro que fantasia e entretenimento estão garantidos no musical de John M. Chu, mas o universo criado por Winnie Holzman é uma obra altamente política, onde o preconceito de muitos ali  relacionam a maldade com o verde da cor da pele de Elphaba. A discriminação da personagem de Cynthia Erivo é o que norteia a mensagem da produção, mas o roteiro deixa claro que os tempos são sombrios e que lideranças fascistas querem mudar as tradições e a aceitação das diferenças na Universidade de Shiz com mãos de ferro. Somos um produto do meio ou do que sofremos ao longo da vida? Essas questões altamente relevantes são pontuadas com tintas muito acentuadas no projeto.

Não dá pra dissertar sobre “Wicked: Parte 1” e não falar da química das protagonistas, que, entre tantos outros acertos, é o pulo do gato da produção. As atrizes formam uma dupla onde o humor afetado da Glinda de Ariana se encaixa como uma luva com a dramaticidade sóbria da Elphaba construída por Erivo. Ouso dizer que as duas juntas formam uma das duplas mais impagáveis de todos os tempos no cinema. Confesso até que fui sem expectativa alguma para a performance de Ariana, que inclusive vai chamar milhares de fãs aos cinemas, mas fui positivamente surpreendido com o timing de humor e a resposta da atriz para tudo que o roteiro desenhou para esse que com toda certeza é o maior desafio de sua carreira.

A segunda parte de “Wicked”, que deve guardar ainda mais aventura e ação do que sua introdução,  só deve chegar em um ano aos cinemas, até lá é válido segurar a ansiedade e ir revendo esse que é um dos grandes acontecimentos cinematográficos do ano. Para os fãs incondicionais de musicais, assim como eu, o longa de John M. Chu reacende a nossa esperança numa Hollywood que já nos mostrou seu potencial em reproduzir a magia dos grandes musicais e ao mesmo tempo  também trazer debates pertinentes para todas as camadas da sociedade e em qualquer lugar do mundo.

Rogério Machado

Designer e cinéfilo de plantão. Amante da arte e da expressão. Defensor das boas causas e do amor acima de tudo. Penso e vivo cinema 24 horas por dia. Fundador do Papo de Cinemateca e viciado em amendoim.

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