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“Ursinho Pooh: Sangue e Mel 2”: Sequência inaugura universo compartilhado de contos infantis em estilo slasher | 2024

O britânico Rhys Frake-Waterfield é um visionário. Essa afirmação pode parecer absurda, principalmente se falarmos do ponto de vista criativo, porém, se enxergamos o cinema enquanto indústria, o que Waterfield fez é para poucos. Com um orçamento de cerca de 50 mil dólares, “Ursinho Pooh: Sangue e Mel” arrecadou mais de 5 milhões, com direito a uma ampla distribuição nos cinemas. Não é surpresa que esse sucesso renderia sequências, contudo mais uma vez ele surpreendeu ao anunciar não apenas um novo capítulo para o slasher mais controverso de 2023, mas também a expansão para o que ele denominou “Twisted Childhood Universe”, ou TCU, um universo compartilhado de filmes independentes de terror, cada um atuando como uma releitura sombria de diferentes personagens de contos infantis que caíram em domínio público. De fato, a concepção de Rhys Frake-Waterfield é intrigante e já vem capturando bastante atenção. No entanto, é lamentável que, embora ele se destaque como empresário, suas habilidades como cineasta ainda deixem a desejar.

Após a chacina no Bosque dos Cem Acres, Christopher Robin é injustamente acusado de ser o autor dos crimes. Em busca de refúgio, ele retorna à sua cidade natal, Ashdown. Perseguido pelos moradores e assombrado por memórias perturbadoras, Christopher precisa não apenas limpar seu nome, mas também desvendar os enigmas por trás da sinistra transformação de seus outrora amáveis amigos de infância.

O terror é um gênero versátil que engloba inúmeras variações, incluindo combinações improváveis como a comédia, criando o curioso subgênero do “Terrir”. Filmes como “Ursinho Pooh” poderiam se beneficiar enormemente desse tipo de mistura. Entretanto, o filme enfrenta vários problemas, e o mais grave é sua incapacidade de não se levar a sério. Rir de si mesmo é um sinal de maturidade, algo que parece faltar a Waterfield como cineasta. Em um dado momento, há um artifício do roteiro que aponta para o que parece ser uma piada interna, que inclusive se coloca como justificativa para a precariedade vista no primeiro filme. No entanto, essa ideia é rapidamente abandonada, cedendo lugar a um drama desinteressante que sofre tanto de atuações fracas quanto de falhas na construção de uma atmosfera envolvente.

É inegável que houve uma melhoria técnica significativa, reflexo do orçamento mais robusto, porém, é importante ressaltar que a técnica é um meio, não um fim. Mesmo com tecnologia de ponta, uma má aplicação não resulta em um bom filme. Essas melhorias são notáveis na caracterização dos vilões, nas maquiagens e nas cenas de violência, que são em sua maioria bastante realistas, exceto naquelas com uso de efeitos digitais, que por sinal são pavorosos. Embora existam esses momentos de êxito isolados, eles não são suficientes para elevar o nível geral. Em suma, a soma das partes não é igual ao todo.

Há muito por vir, e se o primeiro filme foi uma experiência bem-sucedida, essa sequência é o inicio de uma franquia bastante longeva e lucrativa. Apesar dos resultados em tela não serem dos melhores, as bilheterias indicam que existe um público ávido por essa abordagem. Isso não é surpreendente, considerando que o gênero de horror frequentemente acolhe bem esse tipo de ideia. Basta lembrar do sucesso do segmento “trash” que dominou as locadoras nos anos 80 e 90. Não é possível prever quanto tempo essa febre vai durar, mas, pelo menos a médio prazo, parece que Pooh e seus amigos vieram para ficar.

Rafa Ferraz

Engenheiro de profissão e cinéfilo de nascimento. Apaixonado por literatura e filosofia, criei o perfil ‘Isso Não é Uma Critica’ para compartilhar esse sentimento maravilhoso que é pensar o cinema e tudo que ele proporciona.

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