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“Uma Batalha Após a Outra”: com Paul Thomas Anderson à frente e um elenco de peso, longa celebra o cinema em sua potência máxima | 2025

Poucos cineastas contemporâneos têm a estatura de Paul Thomas Anderson. Ao longo de sua trajetória, de “Boogie Nights” (1997) a “Magnólia” (1999), de “Sangue Negro” (2007) a “Licorice Pizza” (2021), PTA, como é mais conhecido, filma com propriedade, como quem conhece intimamente as engrenagens do cinema. Não por acaso, construiu parcerias duradouras com intérpretes de peso como Daniel Day-Lewis, Joaquin Phoenix e Philip Seymour Hoffman, que encontraram em seus projetos alguns dos papéis mais emblemáticos de suas carreiras. “Uma Batalha Atrás da Outra” entra nessa galeria e reafirma o lugar de PTA como um dos grandes dos nossos tempos.

Em poucas palavras, o filme é um sopro arrebatador. PTA imprime desde a primeira cena uma vibração que atravessa toda a obra. É um cinema de urgência, intenso, mas também capaz de acolhimento, feito de imagens que se impõem com força sem perder de vista as sutilezas.

As atuações dão ao filme a densidade de um duelo permanente. Bob Ferguson (Leonardo DiCaprio), outrora guerrilheiro inflamado, carrega no corpo a memória da luta, mas o tempo o conduziu a um lugar de hesitação, onde os hábitos domésticos falam mais alto que as antigas armas. Perfidia (Teyana Taylor) entra em cena como a força que não se contém, presença ameaçadora e irresistível, sempre disposta a ocupar o espaço da batalha. Lockjaw (Sean Penn) preenche a tela com tal intensidade que sua presença permanece mesmo quando não está em quadro, pairando como fantasma sobre a narrativa.

A câmera percorre a grandiosidade dos cenários e a intimidade dos rostos, costurando o épico ao cotidiano sem perder coesão. O filme encontra uma cadência própria, marcada por pausas carregadas e explosões que irrompem com fôlego, em um ritmo que jamais se acomoda.

A política sempre atravessou o cinema de PTA, mas em registros distintos. Em “Magnólia” (1999), aparecia no retrato de uma sociedade em colapso, fragmentada em histórias que expunham a falência das conexões humanas. Em “O Mestre” (2012), expôs como fé, poder e manipulação moldam consciências e sustentam estruturas de dominação. Já em “Trama Fantasma” (2017), descia ao terreno íntimo, encenando os jogos de força e submissão de uma relação amorosa como metáfora das disputas de poder. Em “Uma Batalha Atrás da Outra”, essa dimensão assume outra forma. O passado revolucionário surge menos como projeto e mais como marca que condiciona as relações. É nesse contraste entre a memória de uma luta e a dificuldade de agir no agora que o filme encontra sua tensão.

O resultado é a concentração de uma carreira madura, construída na inventividade e na coerência, ao mesmo tempo em que dialoga com as tensões do presente. Entre atuações marcantes e um olhar que alterna grandiosidade e intimidade, a obra confirma PTA como autor capaz de transformar cada filme em acontecimento. Se sua filmografia já se erguia como mural de obras-primas, este capítulo mais recente não apenas se integra a ele, mas o amplia em alcance e ressonância.

Rafa Ferraz

Engenheiro de profissão e cinéfilo de nascimento. Apaixonado por literatura e filosofia, criei o perfil ‘Isso Não é Uma Critica’ para compartilhar esse sentimento maravilhoso que é pensar o cinema e tudo que ele proporciona.

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