“Uma Advogada Brilhante”: comédia diverte abordando machismo no mundo corporativo com ótimo texto e elenco de peso l 2025
Não é de hoje que a premissa “troca de identidade” é usada em comédias, e invariavelmente funciona, pois é um tema cativante que rende situações bem divertidas. A lista é extensa: “Se Eu Fosse Você”, “Trocando as Bolas”, “Tootsie”, “Victor ou Vitória?”, “Uma Babá Quase Perfeita”, e agora eu acrescentaria “Uma Advogada Brilhante”, filme estrelado por Leandro Hassum que surpreende e faz rir.
Na trama acompanhamos Michelle, um advogado promissor mas desvalorizado no escritório onde trabalha. Vindo de uma família acolhedora, dona de uma típica cantina italiana, ele sempre sofreu com seu nome de batismo ( pronunciado “Miquele” em italiano), pois desde a época de escola pensavam ser um nome feminino. Eis que, um dia, essa confusão tem serventia quando o escritório onde trabalha é comprado pela maior empresa do país, a TOP, e quase todos os homens são demitidos para que se privilegie a contratação de mulheres. A história se divide em duas partes: a vida de Michelle como homem, na luta para provar pro juiz que pode dar estabilidade ao filho; e sua vida como Dra Michelle, enfrentando desafios gigantes no escritório, como defender um caso complicado, e sofrer assédio e humilhações constantes.
Essas histórias se entrelaçam em situações hilárias e muita correria, há várias trocas de roupas, perucas, maquiagem, e sequências de puro besteirol que funcionam numa trama ideal para aquele dia em que você precisa de um filme leve para espairecer. O humor não é grosseiro apesar de passear pela seara do machismo revoltante – essa é uma comédia universal – que está na classificação “filme para família”. Com boas sacadas, o roteiro toca na ferida sempre latente da misoginia em escritórios de advocacia, ou em qualquer outro local de trabalho: disparidade salarial, “mulher não dá conta de trabalhar, cuidar da família, ser linda e bem sucedida”, o desdém a ideias brilhantes vindas de mulheres, paqueras de péssimo gosto, e uma falsa política de quotas que na verdade só mascara ainda mais o sexismo. Michelle sente na pele essas injustiças e, vivendo como a advogada brilhante do título, busca pelo reconhecimento e respeito profissional que merece por sua competência, e não por ser mulher.
O elenco afiado faz a diferença com ótimo timing cômico e diálogos bem construídos, que dão margem para que todos os personagens brilhem na história. Ao contrário do que eu esperava, Leandro Hassum vive o protagonista Michelle sem seus exageros característicos, as caras e bocas “à la Jerry Lewis” são na medida, suas cenas femininas são engraçadas e sua jornada de crescimento emocionante. Do elenco de apoio pode-se destacar a atriz Olivia Lopes como Patrizia , a irmã trans sincerona de Michelle; Renata Brás como Mc Mone, uma caricatura de funkeira de sucesso; Nany People, engraçadíssima como a presidente radical do fã-clube da cantora; Danilo Gentili , o juiz de família incrédulo com a defesa de Michelle; Paulinho Serra, o professor de aeróbica anos 80 acusado de plágio; e por fim Marcelo Mansfield, que interpreta o Dr Pacheco, o chefão excêntrico do escritório que decide sair da clausura pra colocar as coisas em ordem.
“Uma Advogada Brilhante” entrega muito entretenimento ao espectador, além da crítica social sobre desigualdade de gêneros e a mensagem inspiradora sobre se reinventar durante as dificuldades.
