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“Um Tira da Pesada 4”: Eddie Murphy se apoia na nostalgia de Axel Foley para ressuscitar gênero de ação cômica que reinava em 1980 | 2024

“Um Tira da Pesada” (1984) teve um papel importante na consolidação do gênero de ação policial cômica nos anos oitenta. Teria aberto inclusive o caminho para outro sucesso estrelado por Mel Gibson e Danny Glover, “Máquina Mortífera” (1987). O protagonista Axel Foley, interpretado com absoluta propriedade por Eddie Murphy, talvez seja o papel mais icônico da carreira de Murphy, sua perspicácia para sair de situações dificultosas e suas tiradas cômicas histéricas fez muito marmanjo gargalhar na Sessão da Tarde. O sucesso desta franquia rendeu mais duas continuações, uma razoável em 1987 e uma terrível em 1994. O terceiro episódio de “Um Tira da Pesada” foi marcado por uma série de idas e vindas de versões de roteiros e por uma decisão equivocada de Murphy de diminuir o perfil cômico do personagem, que na época enfrentava uma depressão por não ser considerado um “ator sério” em Hollywood.

O fracasso de bilheteria e de crítica enterrou as aventuras de Axel Foley nos anos noventa, até a Netflix conseguir convencer a Paramount a licenciar a marca e dar o sinal verde para a Plataforma de Streaming recriar os elementos que deram tão certo nos primeiros filmes de “Um Tira da Pesada”. O Quarto capítulo desta saga policial ressuscita o elenco original, trazendo de volta Paul Reiser, Judge Reinhold, John Ashton e Bronson Pinchot. E toda vez que esses personagens entram em cena evocando referência às aventuras passadas ou recriando gags que deram tão certo nos capítulos anteriores, o filme funciona. No entanto, há uma tentativa de inserir novos personagens que acaba falhando em certa medida na narrativa.

O filme retoma a história 30 anos depois de “Um Tira da Pesada 3”, Axel Foley continua morando em Detroit e respondendo para o Chefe Jeffrey Friedman (Paul Raiser). Foley teve uma filha, que se tornou promotora de defesa, e mora em Los Angeles. Quando seu antigo amigo Billy Rosewood (Judge Reinhold) entra em contato avisando que sua filha (Taylour Paige) corre risco de morte por estar defendendo um jovem acusado injustamente de matar um policial disfarçado e implantado em um cartel da região, Foley decide mais uma vez pisar em Beverly Hills.

É interessante ver os elementos característicos da franquia serem atualizados aos tempos modernos, trazendo de volta por exemplo o passeio clássico de carro pela Rodeo Drive em que Foley flerta de forma mal sucedida com mulheres no trânsito, vê madames afetadas passeando com seus cachorrinhos, entre outras contextualizações ao novo mundo que Foley está revisitando. O roteiro inclusive faz bom proveito do legado dos filmes anteriores, ao chocar os álibis bem sucedidos que Foley empregava para entrar como penetra em festas ou conseguir chegar aos seus objetivos contando um bando de mentiras (antes infalíveis), com o fato de nada mais colar no ano de 2024. Esta sacada de abordar o velho e o novo, é um dos pontos altos do filme.

O roteiro tenta usar a relação estremecida entre Foley e sua filha, que guarda rancor do pai e não fala há anos com ele, para colocá-la como o eixo central da história. O drama familiar até oxigena a estrutura narrativa, mas a adição de outro policial como parceiro de Foley nas aventuras deste episódio interpretado por Joseph Gordon-Levitt soa forçada e desnecessária. A mesma coisa pode ser dita da inclusão de Kevin Bacon como um policial corrupto no enredo, sua presença se justifica apenas para celebrar outro ícone dos filmes oitentistas e fazer caras e bocas numa atuação pesada e caricata. O roteiro descamba lá pelo terço final do filme, apelando para soluções nada plausíveis e muletas que convenientemente ajudam os personagens a vencer seus desafios e se encaminhar para um “happy ending” forçado.

Outro elemento que ganha revitalização é o tema musical clássico de Foley, simplesmente conhecido como Tema Axel F e idealizado pelo compositor alemão Harold Faltermeyer, os sintetizadores e o teclado infalível quando a ação entra em cena, nos relembram o quanto era empolgante assistir as aventuras policiais de Eddie Murphy em um passado não tão distante.

Em geral, “Um Tira da Pesada 4” cumpre o seu dever de entregar uma obra despretensiosa, que se apoia na boa e velha nostalgia, e serve de plataforma para Eddie Murphy deitar e rolar com seu timing cômico e suas tiradas datadas para um mundo contemporâneo. Muitas vezes a gente só quer dar um sorriso ao ouvir Axel F ecoando pelos alto falantes enquanto Murphy faz o diabo nas ruas de Los Angeles para prender os bandidos da temporada.

Marcello Azolino

Advogado brasiliense, cinéfilo e Profissional da indústria farmacêutica que habita São Paulo há 8 anos. Criou em 2021 a página @pilulasdecinema para dar voz ao crítico de cinema e escritor adormecido nele. Seus outros hobbies incluem viagens pelo mundo, escrever roteiros e curtir bandas dos anos 80 como Tears For fears, Duran Duran e Simply Red.

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