“Um Homem Diferente”: Desconfortável do início ao fim, longa apresenta combinação inusitada de drama e comédia | 2024
O Festival de Sundance, conhecido por revelar filmes independentes que frequentemente brilham nas temporadas de premiações, é o berço de obras como “Pequena Miss Sunshine” (2006), “Whiplash” (2014), “Me Chame Pelo Seu Nome” (2017), “Minari (2020) e “CODA” (2021), todas marcando presença em festivais de prestígio e alcançando destaque no Oscar. Essa trajetória parece se repetir com “Um Homem Diferente”, que, após estrear em Sundance, passou pelo Festival de Berlim e pela Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, culminando recentemente na vitória de Melhor Filme no Gotham Awards 2024. Com uma narrativa que se torna gradualmente mais envolvente e atuações marcantes do trio principal, o longa desponta como um dos grandes destaques do ano.
A trama acompanha Edward Lemuel (Sebastian Stan), um ator aspirante, portador de neurofibromatose, e que decide se submeter a um procedimento médico extremo para transformar sua aparência. Após a cirurgia, ele assume uma nova identidade, mas sua tentativa de recomeçar toma um rumo inesperado quando se envolve em uma produção teatral inspirada em sua antiga vida.
Apostando no absurdo e no estranhamento, o filme se apresenta como um desafio, especialmente para gerações mais jovens, marcadas pela necessidade de estímulo imediato. O diretor Aaron Schimberg, contudo, adota uma abordagem deliberadamente lenta e não se preocupa em oferecer empatia ou confortos narrativos. Esse distanciamento, longe de ser uma falha, fortalece a proposta ao rejeitar qualquer traço de vitimismo. O resultado é uma obra madura que exige do espectador uma disposição reflexiva e um repertório emocional capaz de lidar com momentos que parecem desconexos ou desprovidos de explicações didáticas.
Sebastian Stan entrega uma de suas atuações mais marcantes, explorando transformações físicas e psicológicas que conferem intensidade ao personagem. Renate Reinsve também brilha como Ingrid, uma dramaturga essencial na jornada de Edward, reafirmando seu talento já evidente em “A Pior Pessoa do Mundo” (2021) com uma performance que evoca sentimentos ambíguos. Adam Pearson completa o trio como Oswald, cuja personalidade contrasta com a do protagonista, enriquecendo a narrativa e intensificando o impacto nos momentos decisivos.
Para os mais pacientes, o filme reserva surpresas que adicionam profundidade à experiência; já para aqueles menos receptivos a um olhar mais sóbrio, pode restar o tédio. Dessa forma, sem deixar espaço para indiferença, “Um Homem Diferente” se estabelece como um daqueles filmes divisivos, bem ao estilo “ame ou odeie”.