“Um Filme Minecraft”: adaptação de jogo popular simula engenhosidade sem ter vergonha de se assumir como mero produto comercial | 2025
Você tem a mesma vibe do Frodo, sabia?

Referências. Referências ao quadrado. Uma adaptação que busque dialogar com o público cativo do material original sempre traz grandes referências, mas questionemos os fins e os meios da bola da vez: referências sozinhas se bastam para tornar qualquer obra uma boa adaptação? E o restante do público, conseguirá se envolver com o que é proposto e apresentado em tela? A resposta para ambas as perguntas, no caso de “Um Filme Minecraft”, é um ecoante não.
Já era de se esperar que o longa-metragem sobre um universo tão grande quanto o de Minecraft certamente teria um escopo recheado de conexões com os jogos que somente seus usuários conseguiriam captar – como, por exemplo, a versão mais bem orquestrada da música tema do menu principal, que toca quando o elenco humano adentra o mundo superior. Entretanto, o que resta para criar uma conexão entre o filme e a parcela da plateia que foi só para acompanhar os filhos ou sobrinhos é a presença de alguns rostos conhecidos que, pela superficialidade do roteiro, poderiam ser interpretados por qualquer outra pessoa que não faria diferença nenhuma.
A necessária elaboração de uma boa narrativa seria indispensável para cativar o público adulto ou no mínimo fazer valer o ingresso – contudo, apesar da magnitude do jogo, não há grandes complexidades a serem exploradas e nem qualquer substância que valha a pena ser ruminada. Todo o texto é tão jogado e embasado à frases de efeito que, honestamente, eu teria me sentido mais interessado se estivesse assistindo a um gameplay do jogo original. A trama acabou se mostrando tão vazia quanto as salas de “Branca de Neve” em sua segunda semana em cartaz.
Se as referências são ao quadrado, a preguiça do roteiro é ao cubo. A produção sabe que a marca que está transpondo às telonas tem muito peso comercial, e por saber que já se garante em bilheteria somente por fazer aquele universo “ganhar vida” – em grandes aspas, porque o chroma-key grita a todo tempo. Todo o potencial de criação e expansão mitológica para além da própria bolha (como as séries “Arcane” e “The Last of Us”, por exemplo, ou até mesmo os filmes de “Tomb Raider”) é deixado de lado. Quem precisa se preocupar em elaborar um roteiro atraente quando a mina de diamantes já está garantida? Besteira. Por isso, os diálogos aqui são tão expositivos que até mesmo o público infantil da sessão onde fui se viu fadigado com os excessos de momentos que subestimavam a inteligência coletiva dos presentes.
Apesar dos inúmeros pesares, não é um caso de todo perdido. Um dos maiores triunfos do filme, se não o melhor, é o dinamismo que a presença de Jack Black e Jason Momoa agrega ao marasmo tedioso e previsível que o filme se mostra ser em meio a um festival de embaraços e constrangimentos despropositados. É tão inconsistente em si que, na busca por elementos extratextuais, faz da homenagem a um youtuber jogador falecido o melhor dentre os poucos momentos em que o filme apresenta algum tipo de justificativa para a própria concepção que não seja meramente encher o dinheiro dos acionistas.
O filme mostrou ser só mais um daqueles tão vazios que o único recurso que resta é se escorar na popularidade carismática do elenco escalado para que, talvez, o público consiga ignorar o vazio do propósito dele. Nada contra Minecraft; pode até funcionar como jogo e ser excelente em seu nicho, mas como filme é uma obra tragicamente descartável, como todo produto “fast-food” que se tem visto para arrancar dinheiro fácil do povo através não da qualidade, mas da exploração de um nome popular. No fim das contas, esse produto que chega aos cinemas é só uma besta quadrada.
