“Todo Mundo Ama Jeanne”: Com humor ilustrado, longa francês reflete sobre luto, superação e recomeço | 2024
Jeanne sempre foi a garota mais popular da escola, aquela pela qual todos os garotos babavam, e isso lhe garantiu uma boa autoestima ao longo da vida, para ser e fazer o que bem quisesse. Hoje, porém, seu mundo desabou, seus sonhos de prosperidade acabaram e ela se odeia. Sua mãe morreu tragicamente, abalando profundamente Jeanne e seu irmão; ela foi abandonada pelo namorado; e sua máquina ecológica de reciclar plástico do fundo dos oceanos deu errado; seu sonho de virar um sucesso mundial foi por água abaixo junto do aparelho e ela ficou à beira da falência.
Mas o fundo do poço pode ser o melhor lugar numa crise existencial e financeira, pois o único caminho possível a partir dali é para cima. Jeanne então viaja de Paris pra Lisboa pra vender o apartamento de sua mãe, e no aeroporto ela é abordada por um admirador seu da época de escola, e isso vai mudar o momento horrível que ela está vivendo, e uma trajetória para reconstruir sua autoestima e reconhecer seu potencial se inicia.
A direção e o roteiro de “Todo Mundo Ama Jeanne” são da Céline Devaux, ela é originalmente ilustradora, e aqui faz uma mistura de linguagens certeira que garante o diferencial do seu longa de estreia com humor inteligente. Jeanne dialoga ao longo de toda narrativa com sua consciência, que é uma animação em traços simples feitas pela própria Céline.
Esse seu alter ego tagarela o tempo todo em sua cabeça como se fosse o Grilo Falante, expondo suas frustrações, suas pirações e ansiedades, alertando pro perigo e também dando uma leve sabotada em momentos bons, como bem cabe a uma pessoa em crise e sem a terapia em dia. Essas interações de Jeanne com sua versão animada são engraçadas e assim que termina uma, já esperamos pela próxima.
Outro destaque do longa são os personagens carismáticos: tanto a protagonista quanto os coadjuvantes tem boas atuações. Jeanne, vivida por Blanche Gardin, é sóbria tanto no sofrimento quanto nos pequenos momentos de alegria, represando os sentimentos que estão implorando pra explodir; e Jean (Laurent Lafitte), seu “novo velho amigo de escola”, é um sedutor bem humorado que conquista a todos com sua espontaneidade.
Há o importante resgate afetivo de Jeanne com seu irmão, a quem ela pouco conhece, através das lembranças maternas e das resoluções práticas em relação à herança. “Todo Mundo Ama Jeanne” é um filme sobre superação emocional, que faz isso através da troca de energia e emoções contidas em objetos materiais, como o apartamento da mãe e o aparelho de reciclar plástico do oceano.
Se podemos tirar uma conclusão do processo de recomeço de Jeanne, é que de nada adianta ser amada por todos se o amor próprio não prevalecer, pois esse sim é o primordial, o resto vem naturalmente.