“Thunderbolts*”: com excelente equipe criativa, novo filme é o melhor da Marvel em anos | 2025
Somos perdedores. E perdemos.

Não é novidade para ninguém o crescente desgaste que a Marvel vem sofrendo desde o seu ápice em 2019, com “Vingadores: Ultimato”. De lá para cá houve bons projetos, mas que foram ofuscados pela quantidade imensa de obras sem refinamento narrativo ou estético tanto para o cinema quanto para a televisão, e com isso o nome da gigante do entretenimento foi cansando e se tornando algo como uma piada sem graça, dessas que já ouvimos diversas vezes e nem nos damos mais ao trabalho de sorrir ao ouvi-la.
Contudo, para surpresa de muita gente, eis que “Thunderbolts*” chega aos cinemas trazendo o vigor inventivo necessário para a época e a atenção ao desenvolvimento de personagens de forma tão boa quanto vista nas primeiras fases. Pela primeira vez em anos, a Marvel surpreendeu positivamente – e muito – um público já calejado por tantas frustrações. O elenco dos outrora coadjuvantes (Florence Pugh, Wyatt Russell, David Harbour, Hannah John-Kamen, Olga Kurylenko e Sebastian Stan) assume uma belíssima ponta ao lado de Julia Louis-Dreyfus e Lewis Pullman (que interpreta outro cara chamado Bob, assim como em “Top Gun: Maverick”). A direção é de Jake Schreier, mas o maior triunfo da produção eu atribuo a outros nomes.
Joanna Calo, showrunner da excelente série “O Urso” (também diretora e roteirista) e escritora da série “Treta”, grande sucesso da Netflix, assume aqui o roteiro ao lado de Eric Pearson (argumentista e revisor de roteiro de alguns dos melhores filmes da Marvel) e entrega um trabalho que é, acima de tudo, sensivelmente humano. Ao colocar figuras tão distintas na composição da equipe improvável que dá nome ao filme e explorar seus traumas, inseguranças e frustrações, o que seria só mais um filme de pancadaria repleto de CGI se torna uma terapia de grupo formidável, onde os deslocados têm a oportunidade de fazer a coisa certa e apresentar um trabalho de consciência não só puramente cabível como também… natural.
Como uma versão “mundana” da superequipe anterior, os Thunderbolts* se saem melhor do que a encomenda. A proposta, em uma primeira vista, é bem similar à de “Esquadrão Suicida”, de 2016, que também conta com Harbour no elenco. Em ambos vemos figuras à margem da lei tidas como descartáveis sendo usadas como “ferramenta de limpeza” de algum representante do governo, uma figura vilanesca que é o alter-ego maligno de um alguém que também seria usado por essa autoridade questionável, questões do passado que precisam ser acertadas no íntimo desses anti-heróis, aquele momento clássico de crise de identidade onde os envolvidos optam por fazer o que é certo, e uma força sobrenatural que precisa ser contida. Mas as semelhanças, embora muitas, param por aí. Os filmes são completamente diferentes em tom e em realização – e a maior diferença é que esse aqui é realmente muito bom.
Entre rostos que serviriam e travesseiros do mal, o humor e o constrangimento estão presentes na dosagem certa e não tiram o tom introspectivo que o roteiro demanda ou o porradeiro que o gênero exige. O público consegue se conectar e se importar mesmo com aqueles que, anteriormente, fizeram coisas deploráveis em outras produções. Em resumo, é um filme de humanidades. Contudo, não é perfeito. Há uma subtrama política que fica abandonada quando o roteiro se cansa dela, e algumas conveniências que estão ali por pura tabela (como um encontro não explicado no deserto). Isso, todavia, não tira a genialidade e o brilho da produção. É a Marvel colocando-se de volta aos prumos, reconciliando o interesse do público e pavimentando o caminho para um futuro muito interessante.
