⚠️ VEJA OUTRAS CRITICAS DO PAPO EM NOSSO ACERVO (SITE ANTIGO).

ACESSAR SITE ANTIGO
PitacO do PapO

“Tendaberry”: longa aborda o declínio da juventude norte-americana contemporânea em Nova Iorque | 2025

Dirigido e roteirizado por Haley Elizabeth Anderson, o longa-metragem inaugural de sua carreira, “Tendaberry” (2024), traz uma visão pessimista sobre a vida da juventude de baixa renda na cidade grande, e aqui não é uma cidade qualquer, mas sim Nova Iorque. Com uma estética escura e capturando muitas cenas com a câmera na mão, Anderson praticamente deposita todo o peso dramático do projeto na atriz Kota Johan, que aqui interpreta Dakota, uma garota de seus vinte e poucos anos afro-americana que luta para ganhar alguns trocados, seja cantando no metrô ou trabalhando em uma mercearia de esquina.

Sem qualquer apoio de família ou amigos, Dakota pena para conciliar seus gastos mensais em condições modestas. Seu único respiro é o relacionamento com o namorado ucraniano Yuri (Yuri Pleskun), que diante de um problema familiar precisa voltar para seu país de origem para ajudar seu pai logo quando estoura a guerra da Rússia com a Ucrânia, situação que deixa Dakota em um limbo, sem saber o que teria acontecido com Yuri.

A partir da saída de cena do namorado ucraniano, o roteiro decide jogar a protagonista em uma espiral de desgraças e contratempos que frequentemente pesam a narrativa, não garantindo qualquer refresco para Dakota e nem para o público. À medida que a história avança, os ambientes ficam mais opressivos, a fotografia escura, o movimento de câmera mais errático e com uma edição que muitas vezes deixa a narrativa truncada.

A saga de Dakota é ainda entrecortada com cenas aleatórias de um videografista real chamado Nelson Sullivan, que com sua Câmera Super 8 registrou cenas de sua vida, em Nova Iorque, em mais de 1900 horas de filmagem no final dos anos 80. Seus registros antecedem o conceito atual de Vlogging. Muito antes de existir a internet e o instituto da “selfie” junto com o compartilhamento da vida real, Sullivan já fazia isso com seus amigos nos anos 80 e nem sabia da trend que estaria ajudando a consolidar para o futuro. Ele morreu aos 41 anos de um infarto fulminante. Aqui suas imagens são emolduradas pelo voice over de Dakota trazendo reflexões pertinentes sobre a vida e nosso papel neste mundo.

“Tendaberry” encontra algumas similaridades com o badalado e oscarizado “Anora” (2024), utilizando uma estética e um foco muito semelhante ao que Sean Baker emprega ao abordar o declínio da sociedade norte-americana de baixa renda. Enquanto Baker criou a saga de sua heroína com doses dramáticas e cômicas bem balanceadas, “Tendaberry” não quer tratar com leveza nenhuma os seus temas. A vida de Dakota é um calvário e não há luz no fim do túnel, o que torna a experiência árida na maior parte do tempo.

“Tendaberry” passou discretamente pelo circuito de cinemas mundiais, tendo feito parte do Sundance Film Festival e do Festival de Cinema de Torino em 2024. É uma obra e um cinema promissor que Haley Elizabeth Anderson traz consigo, porém, ainda falta uma certa lapidação para que seu trabalho seja uma experiência que possa trazer reflexão e ao mesmo tempo entreter, como Sean Baker faz tão bem.

Marcello Azolino

Advogado brasiliense, cinéfilo e Profissional da indústria farmacêutica que habita São Paulo há 8 anos. Criou em 2021 a página @pilulasdecinema para dar voz ao crítico de cinema e escritor adormecido nele. Seus outros hobbies incluem viagens pelo mundo, escrever roteiros e curtir bandas dos anos 80 como Tears For fears, Duran Duran e Simply Red.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo