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“Super/Man: A História de Christopher Reeve”:  Simples e honesto, documentário destaca com sensibilidade o herói sob o manto do herói | 2024

Você continua sendo você, e eu te amo

Na Internet é fácil encontrar vídeos ou fotos de pessoas comuns em momentos de bravura, expostos em postagens que costumam trazer legendadas com o ditado “nem todo herói usa capa”. É curioso, observando isso, que a história de Christopher Reeve, que foi o primeiro intérprete do Superman no cinema naquele saudoso filme de 1978, tenha se tornado tão heroica fora das telas quanto dentro delas. Reeve primeiro experimentou a aparência de um herói para então depois, por um infortúnio lamentável, vivenciar a essência.

A tão noticiada queda do cavalo, que se encaixa como uma irônica hipérbole à vida de Reeve, foi o ponto de virada que se tornou definitivo entre o homem que podia voar e o herói que não conseguia sequer andar. A tetraplegia se revelou uma motivação para novos projetos, novas perspectivas e novas relações, e o núcleo familiar se fez fundamental como rede de apoio para que Reeve entendesse a si mesmo como um suporte aos até então ignorados deficientes.

Com seu nome dando visibilidade ao estado em que mais pessoas se encontravam, o artista que Reeve era viu na comoção pública uma oportunidade de fazer a real diferença. Temos aqui, além de relatos de amigos, familiares, colegas de profissão e admiradores de quem Reeve foi, depoimentos de pessoas que tiveram suas vidas transformadas pela luta que o super homem tomou para si. Se hoje a ciência avançou e recursos foram captados para pesquisas de recuperação de pessoas paralíticas, foi por uma luta do Instituto que Reeve e sua esposa fundaram.

Vemos aqui o passo-a-passo íntimo de como os vínculos mais próximos receberam a notícia do acidente, de como lidaram nas semanas, nos meses e nos anos que sucederam, e do modo como ele partiu. Acompanhamos a repercussão nos noticiários, na indústria, no Oscar, mas principalmente na mente do astro que viu sua vida inteira mudar de um segundo para o outro. Entre trechos de seus filmes e sessões de fisioterapia, acompanhamos o drama de superação da vida real daquele que, antes, era visto como alguém que podia tudo e que, agora, era alguém dependia completamente do auxílio dos outros.

O documentário, contudo, não se abstém da exposição de uma face de mesquinhez que o próprio Reeve apresenta à câmera, revelando em depoimentos o quanto aprendeu e como a nova condição mudou sua percepção sobre a vida. Por fim, temos um homem comum, com sonhos e ambições, que se reinventou a partir da própria tragédia e mudou a vida de milhares – milhões, na verdade – de pessoas. Isso ecoa em tela nas vozes e olhares de artistas como Susan Sarandon, Glenn Close e Robin Williams, amigo fiel que permaneceu com Reeve e se tornou uma âncora na tempestade que se formou. Robin foi um herói para o herói, e o filme dá a ele todo o mérito que lhe é devido.

De fato, nem todo herói usa capa. Nem todo herói voa, ou tem um escudo de esperança estampado no peito. Mas todo homem pode ser um herói, independente do quão limitado ele seja fisicamente. Christopher Reeve deixou tal ensinamento, e com ele um legado majestoso de perseverança, humildade e, principalmente, heroísmo.

Vinícius Martins

Cinéfilo, colecionador, leitor, escritor, futuro diretor de cinema, chocólatra, fã de literatura inglesa, viciado em trilhas sonoras e defensor assíduo de que foi Han Solo quem atirou primeiro.

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