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“Sorria 2” : Com poderosa atuação de Naomi Scott, sequência amplia o universo e abre portas para novas possibilidades | 2024

O desejo de transformar filmes em franquias é uma ambição recorrente dos grandes estúdios, uma tendência que persiste há pelo menos quatro décadas. Desde o auge dos filmes slasher, é comum que cada assassino mascarado protagonize pelo menos três ou quatro sequências, sem mencionar franquias emblemáticas como “Halloween” e “A Hora do Pesadelo”, que acumulam uma dúzia de títulos cada. Isso não é necessariamente um ponto negativo. Afinal, alguns exemplos recentes mostram que o formato de franquia pode funcionar bem, especialmente no gênero de terror. “Terrifier”, por exemplo, está a caminho de seu terceiro filme e já há planos para continuar expandindo o universo. “Um Lugar Silencioso” segue um caminho similar, consolidando-se com sequências e projetos derivados, enquanto “Invocação do Mal” construiu um extenso universo compartilhado com diversos spin-offs.

“Sorria”, lançado em 2022, demonstrou desde o início ser um forte candidato a ingressar nesse panteão. Com uma bilheteria de $217 milhões e um custo de apenas $17 milhões, a confirmação de uma sequência era praticamente inevitável. Assim, “Sorria 2” surgiu, aproveitando a base sólida construída pelo primeiro filme. A continuação foca mais no estudo de personagem, utilizando a maldição como pano de fundo para explorar temas relevantes, como os efeitos nocivos da fama, abuso de drogas, traumas e relações tóxicas.

Na trama, acompanhamos Skye Riley (Naomi Scott), uma estrela pop em ascensão que planeja seu retorno triunfal aos palcos após um acidente devastador que tirou a vida de seu parceiro e a deixou gravemente ferida. Lutando para superar um passado marcado pelo abuso de drogas, Skye busca reconstruir sua vida, mas logo começa a notar comportamentos perturbadores nas pessoas ao seu redor. À medida que a linha entre realidade e ilusão se torna cada vez mais tênue, ela é arrastada para uma espiral de desespero, determinada a desvendar as forças sombrias que a estão levando à beira da loucura.

Em uma sequência, as comparações são inevitáveis, mas muitas vezes podem ser injustas. “Sorria 2”, lançado em 2024, contou com um orçamento mais generoso, mas seus méritos estão profundamente enraizados nas conquistas do primeiro filme. Enquanto o original, de 2022, focava na construção do universo da maldição, usando os personagens – especialmente a protagonista – como ferramentas para explorar o mistério, a continuação opta por se afastar de explicações mais detalhadas e mergulha profundamente na psique de Skye. Naomi Scott merece reconhecimento pela intensidade e autenticidade de sua atuação, que dá complexidade à personagem. No entanto, foi necessário que o primeiro filme caminhasse para que esta sequência pudesse alçar voos maiores.

“Sorria 2” também mostra uma abordagem mais coesa em relação ao tom. Enquanto no primeiro havia uma hesitação ao misturar horror psicológico com elementos de filme de monstro mais explícito, a sequência adota uma progressão mais linear e bem definida. O enredo começa focado nos aspectos psicológicos, mergulhando nas angústias da protagonista, e gradualmente avança para uma visceralidade crescente, criando uma escalada de tensão que se desenrola de forma mais fluida e ordenada.

Com isso, a Paramount conquista mais um acerto e certamente abre novas possibilidades para o futuro. Parte do sucesso pode ser atribuído à liberdade criativa concedida ao diretor Parker Finn, que, apesar de alguns momentos esteticamente vazios e firulas desnecessárias – como o uso excessivo da câmera girando em 360 graus, lembrando um garoto empolgado com seu primeiro drone –, ainda assim consegue imprimir uma visão autoral rara na grande indústria contemporânea. Não que os grandes estúdios estejam desprovidos de diretores com identidade própria, mas é incomum que cineastas ainda pouco conhecidos recebam tamanha autonomia para desenvolver sua visão. Fica a torcida para que essa rara concessão se torne tendência, privilegiando mais a arte e menos a lógica industrial, abrindo espaço para que novas vozes floresçam no cinema mainstream.

Rafa Ferraz

Engenheiro de profissão e cinéfilo de nascimento. Apaixonado por literatura e filosofia, criei o perfil ‘Isso Não é Uma Critica’ para compartilhar esse sentimento maravilhoso que é pensar o cinema e tudo que ele proporciona.

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