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“Setembro 5”: filme sobre atentado de Munique em 72 é visto pelo prisma da imprensa e sua atuação | 2025

Qual o papel da imprensa? Nos tempos em que as chamadas Fake News são tratadas por muitos com seriedade, a resposta pra essa pergunta pode se tornar muito complexa. Porém, a pergunta supracitada em se tratando do filme em questão, pode ser transportada para outros campos de discussão, já que em 1972, que é quando se passa a trama de “Setembro 5”, não corríamos o risco de cair em Fake News, mas o de sermos expostos a acontecimentos sem nenhum tipo de filtro. Muito embora acredite que o longa de Tim Fehlbaum (“Refúgio”– 2022), não se preocupa em debater a superexposição, acho pertinente citar esse viés, uma vez que, a exemplo da cabine de imprensa em que estive há alguns dias, essa abordagem pode vir à tona em rodas de conversas sobre o longa.  Eu vejo que aqui a intensão é narrar um marco na história do jornalismo e não colocar em cheque códigos de conduta.

Na trama, conheceremos uma equipe de jornalistas esportivos que precisam mudar o rumo da cobertura radicalmente quando atletas são feitos de reféns dentro da Vila Olímpica. Essa história é conhecida como o  Massacre de Munique, atentado que aconteceu nos Jogos Olímpicos de Verão de 1972 na Alemanha, a partir do ponto de vista da equipe de transmissão da ABC Sports. Na noite de 5 de setembro de 72, um grupo terrorista chamado Setembro Negro invadiu a Vila Olímpica e fez 11 atletas da delegação israelense de reféns. Foi então que os jornalistas esportivos que estavam cobrindo o evento tiveram que transformar a abordagem de suas pautas para noticiar ao vivo o que estava acontecendo durante o sequestro que viria a se tornar o maior atentado terrorista a acontecer em um evento esportivo até hoje.

A abordagem sensacionalista e a superexposição do massacre poderá gerar o seguinte debate: vale tudo pela audiência? Ainda que a construção da tensão em “Setembro 5” seja pautada também nessa máxima, o que fica é o quanto todos se esforçaram para levar o fatídico evento com profissionalismo ao grande público. Até porque fica difícil medir qualquer debate sobre ética, já que essa terrível situação foi um caso até então inédito.. e segue até hoje sendo assim.

É importante contextualizar: as últimas olimpíadas realizadas em solo alemão haviam sido em Berlim, em 1936 — anos antes do início da Segunda Guerra Mundial, mas já sob o comando do ditador Adolf Hitler; que usou a competição como propaganda política. A movimentação em mudar o olhar sobre os alemães resultou em uma segurança relaxada, dando margem para tudo o que conhecemos no evento de 1972, que é considerado o maior pesadelo da história dos jogos.

O que faz a narrativa ganhar volume é a eficiente montagem que nos coloca no meio do atentado sem estarmos efetivamente acompanhando tudo em primeiro plano, são relatos, chamadas de telefone e recados que chegam à redação que vão  construindo o clima de tensão nos bastidores dos estúdios da ABC e por consequência atingindo em cheio o expectador, desde o impasse sobre quem faria a cobertura – já que pelas circunstâncias quem deveria cobrir era a equipe de jornalismo diário e não de esportes – até as reviravoltas e questões morais vividas por quem se envolveu na cobertura. Outro detalhe interessante é que as imagens usadas para as atualizações  do atentado são reais,  do âncora que estava de plantão na ocasião.

“Setembro 5” teve a chance de mostrar por um outro ângulo essa triste história real e o fez com bom aproveitamento, já que em 2005 Steven Spielberg foi quem apresentou ao mundo sua versão do atentado, que inclusive foi bastante festejado pela crítica em geral. No longa de Fehlbaum, o ponto alto é o elenco encabeçado por Peter Sarsgaard, John Magaro e Ben Chaplin, entrosadíssimo por sinal. Já que cinema se faz no coletivo, nada melhor que um bate bola de alto nível entre protagonistas de alta tarimba.

Rogério Machado

Designer e cinéfilo de plantão. Amante da arte e da expressão. Defensor das boas causas e do amor acima de tudo. Penso e vivo cinema 24 horas por dia. Fundador do Papo de Cinemateca e viciado em amendoim.

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