“Saideira”: Comédia diverte com resgate emocional entre irmãs e conhecimentos sobre cachaça | 2024
Saideira é aquele último drink antes de ir embora de um bar ou festa, o fechamento da noite. No longa “Saideira”, esse também é o nome de uma cachaça rara, tão rara que muitos duvidam que ela exista ou que esteja escondida em algum lugar secreto, ela é o Santo Graal das aguardentes, procurada ao longo da vida por Penélope, sommelier da bebida.
Penélope e Joana são duas irmãs com personalidades e vidas bem distintas: uma é especialista em cachaças, a maior do país, uma mulher durona e impetuosa que vive numa metrópole; já a outra faz artesanato de fuxico, é mais emotiva e mora na aprazível Paraty. Depois de muito tempo distantes, Penélope e Joana se reencontram depois da morte de Honório, avô que as criou e que deixou de herança a preciosa pinga, mas para encontrá-la as irmãs tem que seguir um mapa do tesouro numa viagem pela Estrada Real, onde fantasmas do passado e revelações vem à tona para que elas enfim tentem se reconectar emocionalmente.
O elenco de primeira nos entrega ótimas sequências, tanto cômicas quanto dramáticas, e eleva a trama de uma comédia simplória para o patamar de um bom filme. Jackson Antunes é Paulão, dono de um boteco muito simples mas repleto de marcas diferentes de pinga com nomes bem inusitados. Suely Cardoso é Graça, a viúva do falecido cachaceiro, que não exita em expor suas intimidades em uma ótima cena. Tonico Pereira é Honório, o avô falecido que passa os dias enganando os turistas da cidade, ele tem seu charme apesar das muitas falhas. Ary França vive o advogado meio maluco, numa participação rápida mas engraçada. E por fim as atrizes que vivem as protagonistas: Luciana Lopes é Penélope, uma mulher que teve que lutar depois do abandono emocional, e por isso passa uma imagem de fria e pragmática, talvez pra não sofrer novamente; já Thati Lopes coloca um tom passional e meigo na Joana, que apesar dos pesares não cortou os laços com a família. Ambas são cativantes e tem suas motivações para agir como agem.
A direção de Pedro Arantes e Júlio Taubkin é eficiente em dosar o drama familiar presente no conflito entre as irmãs com bastante humor durante essa jornada onde elas mergulham não só no conhecimento mútuo mas também no autoconhecimento, algo que evitavam para se poupar do incômodo de encarar suas próprias falhas. A narrativa é dinâmica, prende e nos leva a torcer para que o final seja feliz.
A busca pela tão valiosa pinga é recheada de informações fascinantes sobre como é o processo de fabricação da bebida, tipos de madeira para os tonéis, a diferença dos sabores conforme o tipo de cana-de-açucar e de solo onde é plantada, a aula de como fazer aguardente de qualidade deixa um gostinho de “quero mais” e nos ensina que pinga não é uma bebida vulgar como muitos pensam . E no final das contas, a cachaça Saideira não é apenas uma garrafa cobiçada, ela também é uma analogia de algo ainda mais raro: os verdadeiros laços de afeto.