“Quarteto Fantástico”: com visual retrofuturista e foco nos relacionamentos familiares, filme pavimenta caminho ao próximo evento da Marvel | 2025
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Até agora, no século XXI, cada um dos três anos terminados em cinco apresentaram uma nova formação para o Quarteto Fantástico no cinema. O filme de 2005 não chegou a ser um sucesso estrondoso na crítica da época, mas conquistou sua leva de fãs e fez uma bilheteria grande o bastante para garantir a sequência, que foi lançada dois anos depois e apresentou um ótimo Surfista Prateado e um Galactus extremamente vergonhoso. Na década seguinte, agora em 2015, o reboot com novos atores – e em uma abordagem inicialmente mais científica e menos fantasiosa – não conseguiu conquistar nem o público e nem tampouco a crítica, e se tornou um dos maiores fiascos do ano. E dessa vez, em uma era fatigada do gênero após tantas produções medíocres, a Marvel apresenta uma nova versão para agregar ao seu universo cinematográfico compartilhado a superfamília dos quadrinhos, que promete abalar as estruturas da conclusão da atual fase.
Com uma estrutura de arco independente no conglomerado já estabelecido que é o MCU, o filme surpreende por ser tão isolado do restante quando prometia, com a cena pós-créditos de “Thunderbolts*” (2025) e a expectativa da apresentação do novo grande vilão do próximo filme evento, apresentar mais conexões com aquilo que já é e com o que está por vir; mas o que se encontra é um filme contido nele mesmo, com a tradicional estrutura de roteiro registrada por Syd Field, e arriscando pouco enquanto, em contrapartida, tenta nos convencer do risco de fim do mundo com a chegada do devorador de mundos, Galactus (esse sim, com cara de Galactus, e não uma mera nuvem cósmica como a vista no filme de 2007). É um filme pequeno com um vilão gigantesco, onde questões geopolíticas são citadas por alto e tudo parece se resumir ao rendimento do mundo perante a incrível inteligência de Reed Richards.
Apesar de não estar recheado com conexões ao restante do MCU, o filme de Matt Shakman é fundamental para entender o que virá a seguir. Com a já anunciada ida do quarteto para o universo regular da Marvel, a relação de causalidade começa a ser empregada aqui, com a causa; o efeito será visto no próximo filme dos “Vingadores”, em 2026. O filme da vez é como um experimento visual e possui em suas entranhas ótimas aspirações ao magnífico, evocando um tom de heroísmo animado semelhante aos bons e velhos cartoons. Contudo, todas as ramificações e implicações “reais” (isto é, dentro daquele mundo) soam pasteurizadas, uma vez que não há outras interferências políticas ou militares em sobreposição ou contraponto às decisões do Quarteto – isso em um mundo que, conforme o próprio filme diz, se une em paz pela primeira vez em nome de um bem maior; portanto, guerras e interesses divergentes existem, e nem tudo são flores.
O grande charme do “Quarteto Fantástico” de 2025 incide na estética adotada para trabalhar o universo paralelo em que a trama principal se desenvolve. A adesão ao retrofuturismo, como feito também nos dois filmes de “Os Incríveis” (2004/2018) da Pixar, imprime um tom de elegância consciente e valorativa ao todo que o filme se mostra. Já o espírito da produção, contudo, se manifesta através das relações entre a equipe enquanto se portam como super-heróis e, principalmente, como família. Há um quê de encanto em como a sociedade interage com esses indivíduos tão poderosos, depositando a fé pública em suas ações e alçando-os ao posto de “salvadores da pátria” estadunidense – e, por consequência, do mundo inteiro também, até porque deve existir um alvo gigantesco pairando sobre Manhattan, para que tudo quanto é vida extraterrestre mire lá ao chegar na Terra, independente de em qual dimensão a história ocorra.
O elenco, encabeçado pelos onipresentes Pedro Pascal e Joseph Quinn ao lado de Vanessa Kirby e Ebon Moss-Bachrach, tem um bom entrosamento em cena e convence que existe intimidade na dinâmica familiar que vivenciam em cena. É um drama em um mundo quase tão idealista quanto o de John Lennon em sua icônica canção “Imagine”, onde a Surfista Prateada de fato surfa e tudo no entorno do quarteto se mostra, de fato, fantástico. É um filme com coração, mas sem muita coragem. Por enquanto, talvez seja disso que a Marvel esteja precisando para se reencontrar com o público calejado, e assim, quem sabe, evitar que daqui dez anos, no não tão distante ano de 2035, tenhamos que ver outra versão do Quarteto chegando às telonas após fracassar em suas adaptações.
