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“Quarteto Fantástico”: com visual retrofuturista e foco nos relacionamentos familiares, filme pavimenta caminho ao próximo evento da Marvel | 2025

37 segundos

Até agora, no século XXI, cada um dos três anos terminados em cinco apresentaram uma nova formação para o Quarteto Fantástico no cinema. O filme de 2005 não chegou a ser um sucesso estrondoso na crítica da época, mas conquistou sua leva de fãs e fez uma bilheteria grande o bastante para garantir a sequência, que foi lançada dois anos depois e apresentou um ótimo Surfista Prateado e um Galactus extremamente vergonhoso. Na década seguinte, agora em 2015, o reboot com novos atores – e em uma abordagem inicialmente mais científica e menos fantasiosa – não conseguiu conquistar nem o público e nem tampouco a crítica, e se tornou um dos maiores fiascos do ano. E dessa vez, em uma era fatigada do gênero após tantas produções medíocres, a Marvel apresenta uma nova versão para agregar ao seu universo cinematográfico compartilhado a superfamília dos quadrinhos, que promete abalar as estruturas da conclusão da atual fase.

Com uma estrutura de arco independente no conglomerado já estabelecido que é o MCU, o filme surpreende por ser tão isolado do restante quando prometia, com a cena pós-créditos de “Thunderbolts*” (2025) e a expectativa da apresentação do novo grande vilão do próximo filme evento, apresentar mais conexões com aquilo que já é e com o que está por vir; mas o que se encontra é um filme contido nele mesmo, com a tradicional estrutura de roteiro registrada por Syd Field, e arriscando pouco enquanto, em contrapartida, tenta nos convencer do risco de fim do mundo com a chegada do devorador de mundos, Galactus (esse sim, com cara de Galactus, e não uma mera nuvem cósmica como a vista no filme de 2007). É um filme pequeno com um vilão gigantesco, onde questões geopolíticas são citadas por alto e tudo parece se resumir ao rendimento do mundo perante a incrível inteligência de Reed Richards.

Apesar de não estar recheado com conexões ao restante do MCU, o filme de Matt Shakman é fundamental para entender o que virá a seguir. Com a já anunciada ida do quarteto para o universo regular da Marvel, a relação de causalidade começa a ser empregada aqui, com a causa; o efeito será visto no próximo filme dos “Vingadores”, em 2026. O filme da vez é como um experimento visual e possui em suas entranhas ótimas aspirações ao magnífico, evocando um tom de heroísmo animado semelhante aos bons e velhos cartoons. Contudo, todas as ramificações e implicações “reais” (isto é, dentro daquele mundo) soam pasteurizadas, uma vez que não há outras interferências políticas ou militares em sobreposição ou contraponto às decisões do Quarteto – isso em um mundo que, conforme o próprio filme diz, se une em paz pela primeira vez em nome de um bem maior; portanto, guerras e interesses divergentes existem, e nem tudo são flores.

O grande charme do “Quarteto Fantástico” de 2025 incide na estética adotada para trabalhar o universo paralelo em que a trama principal se desenvolve. A adesão ao retrofuturismo, como feito também nos dois filmes de “Os Incríveis” (2004/2018) da Pixar, imprime um tom de elegância consciente e valorativa ao todo que o filme se mostra. Já o espírito da produção, contudo, se manifesta através das relações entre a equipe enquanto se portam como super-heróis e, principalmente, como família. Há um quê de encanto em como a sociedade interage com esses indivíduos tão poderosos, depositando a fé pública em suas ações e alçando-os ao posto de “salvadores da pátria” estadunidense – e, por consequência, do mundo inteiro também, até porque deve existir um alvo gigantesco pairando sobre Manhattan, para que tudo quanto é vida extraterrestre mire lá ao chegar na Terra, independente de em qual dimensão a história ocorra.

O elenco, encabeçado pelos onipresentes Pedro Pascal e Joseph Quinn ao lado de Vanessa Kirby e Ebon Moss-Bachrach, tem um bom entrosamento em cena e convence que existe intimidade na dinâmica familiar que vivenciam em cena. É um drama em um mundo quase tão idealista quanto o de John Lennon em sua icônica canção “Imagine”, onde a Surfista Prateada de fato surfa e tudo no entorno do quarteto se mostra, de fato, fantástico. É um filme com coração, mas sem muita coragem. Por enquanto, talvez seja disso que a Marvel esteja precisando para se reencontrar com o público calejado, e assim, quem sabe, evitar que daqui dez anos, no não tão distante ano de 2035, tenhamos que ver outra versão do Quarteto chegando às telonas após fracassar em suas adaptações.

 

Vinícius Martins

Cinéfilo, colecionador, leitor, escritor, futuro diretor de cinema, chocólatra, fã de literatura inglesa, viciado em trilhas sonoras e defensor assíduo de que foi Han Solo quem atirou primeiro.

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