“Os Roses – Até que a Morte os Separe”: duelo matrimonial entre Olivia Colman e Benedict Cumberbatch se destaca pelo humor ácido | 2025

Confesso que, quando assisti ao trailer de “Os Roses – Até que a Morte os Separe”, remake do filme de Danny DeVito de 1989, senti desconforto ao ver dois talentos como Olivia Colman e Benedict Cumberbatch se digladiando com guerra de comida, laranjada na cara e afins… O que poderia se tornar um festival de cenas do gênero chamado “comédia pastelão” me surpreendeu positivamente na sala de cinema. O filme não só arranca boas risadas do público como também reserva apenas os trinta minutos finais para o que poderia ser considerado “pastelão”. A construção narrativa proposta pelo diretor Jay Roach (de filmes como “Austin Powers” e “Entrando Numa Fria”) sobre a desconstrução conjugal de dois personagens que se amam, mas que veem essa cumplicidade se esfarelar, é uma ótima reflexão sobre relações amorosas modernas e a “queda de braço” matrimonial de quem tem mais poder.
Ivy Rose (Olivia Colman) é uma dona de casa amorosa com seus filhos, que cozinha maravilhosamente bem, desde bolos até pratos com caranguejos elaboradíssimos. Ex-chefe de cozinha, ela leva uma vida pacata com seu marido, o arquiteto badalado Theo Rose (Benedict Cumberbatch). Theo é o provedor financeiro da família, mas vê tudo mudar quando o projeto arquitetônico de sua vida literalmente desmorona, colocando-o na lista de “cancelados”. Enquanto isso, Ivy, que havia montado despretensiosamente um pequeno restaurante de caranguejos que só abre três dias por semana, vê seu negócio florescer, catapultando-a numa curva ascendente de sucesso. Ivy, que antes era sustentada por Theo, de repente inverte os papéis na relação, e Theo acaba assumindo a função de dono de casa e de pai em período integral.
Ivy se torna uma estrela da culinária tão grande que fecha parcerias com o famoso chef David Chang, do restaurante Momofuku, cria uma franquia do seu negócio de caranguejos e passa a levar uma vida de alto padrão, com viagens em jatinhos particulares e contratos milionários. Theo passa de marido apoiador a marido frustrado, ressentido e “castrado”. Obviamente, o “power balance” desigual do casal acaba afetando a libido, a dinâmica familiar e uma série de outros elementos na vida de Theo e Ivy.
Graças ao talento indiscutível de Colman e Cumberbatch e aos diálogos afiados com muito humor britânico, “Os Roses” não só diverte como também estabelece uma curiosa discussão sobre como cônjuges lidam com os sacrifícios que um deve fazer pelo outro. O “toma lá, dá cá”, muitas vezes, pode custar um casamento.
Colman e Cumberbatch são mais do que suficientes para carregar o filme inteiro. Contudo, o time de coadjuvantes traz uma série de participações que elevam ainda mais a narrativa, seja nas cenas cômicas nonsense com o casal de amigos Amy e Barry (interpretados por Kate McKinnon e Andy Samberg), que protagonizam jantares desastrosos, ou na cena impagável com a participação de Allison Janney como uma advogada implacável.
Os Roses de 2025 adota um tom mais solar e cômico do que a versão sisuda de 1989 com Kathleen Turner e Michael Douglas, em grande parte devido à dinâmica de Colman e Cumberbatch, que entregam uma parceria em cena deliciosa de se acompanhar. O final, inesperado, deixa um sorriso maroto no público acompanhado de um riso nervoso, principalmente daqueles que exorcizaram seus demônios no cinema e precisam voltar para a rotina – nem sempre adorável – de casados… Sorte dos solteiros.