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“Os Colonos”: Longa expande fronteiras e injeta sangue latino no gênero western | 2024

O Faroeste é um gênero essencialmente americano e dominou as bilheterias dos Estados Unidos entre as décadas de 1930 e 1950. Com os anos, o gênero passou por diversas transformações e influenciou significativamente outros formatos, incluindo os filmes de samurai no Japão, dirigidos por mestres como Mizoguchi e Kurosawa. O faroeste também encontrou nova vida na Europa, especialmente na Itália com Sergio Leone, cuja famosa Trilogia dos Dólares teve enorme sucesso de público.

Em “Os Colonos”, a estética western é claramente perceptível, com seus característicos planos abertos que capturam a vastidão desolada da região, neste caso, os Andes, e o uso frequente do “plano americano”. Lançado em Cannes 2023, “Os Colonos” compartilhou os holofotes com “Assassinos da Lua das Flores”, outro filme que aborda o extermínio de uma comunidade indígena. “Os Colonos” transpõe essa trágica realidade para a América Latina, especificamente a fronteira entre Chile e Argentina.

Ambientado em 1901 na Tierra del Fuego, a trama narra a jornada de três homens contratados por um influente proprietário de terras. Na companhia de um imprudente tenente britânico e um mercenário norte-americano, está o atirador mestiço Segundo (Camilo Arancibia). Conforme as tensões no grupo se intensificam, Segundo descobre a verdadeira natureza de sua missão: a eliminação dos indígenas da região, forçando-o a confrontar os dilemas morais de seu envolvimento.

É interessante observar a construção do protagonismo em “Os Colonos”. Inicialmente, a centralidade da trama é atribuída a personagens muito distintos de Segundo. Ele, por sua vez, emerge como um homem calado e de atitude vacilante. Sua quietude não se deve apenas a barreiras linguísticas, mas também ao fato de sua presença ser dissonante dentro de um grupo tão heterogêneo. Paradoxalmente, ele é reduzido à figura de um estranho dentro do próprio país. Enquanto colabora no genocídio de seus compatriotas, o processo de repressão pelo qual passa representa outro método de extermínio, um que apaga sua identidade e, sobretudo, suas raízes. Posteriormente, a introdução de uma personagem feminina enriquece ainda mais a narrativa, adicionando uma camada crucial que destaca as verdadeiras vítimas desta sombria história da colonização na América Latina.

Por anos, o silenciamento dessas vozes foi um método de apagamento de suas histórias, e é extremamente inventivo que essa retomada do protagonismo ocorra em um papel com poucos diálogos, que se comunica através de olhares e expressões muito palpáveis. Entre momentos de violência explícita e outros de sutileza profunda, o filme injeta sangue latino e reconta nossa trágica experiência colonialista, que com alguma justiça, tem ganhado cada vez mais a relevância necessária.

Rafa Ferraz

Engenheiro de profissão e cinéfilo de nascimento. Apaixonado por literatura e filosofia, criei o perfil ‘Isso Não é Uma Critica’ para compartilhar esse sentimento maravilhoso que é pensar o cinema e tudo que ele proporciona.

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