PitacO do PapO
“Os Caras Malvados 2”: ampliando os horizontes, novo filme impõe dilemas e brinca com as frustrações de quem se dedicar a fazer o bem | 2025
Surtei, deu paniquito

Um dos grandes triunfos de “Os Caras Malvados” (2022), além da estética primorosa, é a ousadia de se assumir um filme de gênero dentro do estilo audiovisual que a animação é. Sua continuação, que chega agora aos cinemas, resgata o tom furtivo dos filmes de assalto e agrega uma passagem curiosa de frustrações e dilemas inteligentes sobre ser bom e meramente parecer ser bom. Com esse embate entre aparência e essência, diluindo sonhos e a própria imagem em prol dos novos princípios, os caras malvados reafirmam seu compromisso em serem caras legais e se dispõem a assumir um posto de heroísmo anônimo quando, em uma trama ainda mais absurda, se tornam elementos fundamentais para que o mundo seja salvo de um plano maligno quase às dimensões de “Meu Malvado Favorito” (2010).
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Filmes com protagonistas que são representações visuais de animais (com comportamentos humanos, no caso) seguem um caráter majoritariamente alegórico, fazendo uso de estereótipos e traçando paralelos sociais às personalidades correspondentes. O novo filme se promove, após os acontecimentos finais de seu antecessor, a quebrar o pragmatismo intuitivo de que, por exemplo, a raposa é uma malandra egoísta e a cobra é uma odiosa traiçoeira – isso agora que o grupo protagonista descobriu os prazeres do “abano de cauda” que surge ao se fazer o bem. Essas mudanças só são narrativamente críveis aqui (e sem descaracterizar tais figuras em suas particularidades) porque o roteiro se dedica a um bom desenvolvimento de personagens e estabelece laços com base nos talentos de cada um e em como isso escolhe ser usado para o bem.
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“Os Caras Malvados”, tanto em seu primeiro quanto no segundo filme, se constroem como aulas interativas que doutrinam os pequenos a fazer o bem mesmo quando o mal se apresenta como mais fácil e atrativo. O surgimento de uma nova gangue do mal, que usa chantagem para colocar os caras agora legais de volta ao mundo do crime, rende um debate interno interessante sobre preços a serem pagos em nome de um bem maior e sacrifícios pessoais para resguardar quem se ama. Com isso, o roteiro dá uma guinada ambiciosa às modas da franquia “Velozes e Furiosos” e usa todas as possibilidades cartunescas (inclusive com grandes doses de piadas de pum) para tecer o excelente ritmo criativo onde mesmo as piadas repetidas conseguem se manter graciosas devido ao tempo de cada uma delas. Uma pena terem trocado os dubladores brasileiros, mudança que se faz bem perceptível quando se revisita o primeiro antes de assistir ao segundo – mesmo que a qualidade da dublagem permaneça altíssima.
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Com a promessa de um terceiro filme ainda mais repleto de planos extraordinários e novas dinâmicas entre os personagens, “Os Caras Malvados 2” se posiciona como um adorável filme do meio, onde nada é gratuito e os exageros ditam o charme do todo. É uma comédia infantil, que apresenta para o público alvo elementos que os direcionam a um futuro de apreciação de histórias de espionagem e planos elaborados de assalto, como os da famosa franquia “Missão: Impossível” e dos emblemáticos filmes da saga “Ocean’s”, conhecida aqui no Brasil como “Onze Homens e Um Segredo” (2001). Entre confiança postas à prova, declarações de amor por meios escusos e beijos que mais parecem atividades predatórias, a DreamWorks adicionou mais um acerto ao seu catálogo brilhante de filmes cativantes.
