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“O Mal Que Nos Habita” : Longa argentino mistura velhos clichês com pitada de originalidade em terror de primeira | 2024

Uma crença muito presente no senso comum dos cinéfilos e não cinéfilos é o mito da superioridade argentina no cinema. Uma comparação ingênua uma vez que temos contato apenas com conteúdo pensado para consumo internacional e é possível dizer que de todas das produções do país, uma pequena minoria é exportada. O fato de terem sido premiados duas vezes no Oscar também não é parâmetro, afinal, não são os norte-americanos que possuem a régua do que é bom ou ruim.

Trata-se de uma importante premiação, porém nem sempre pautada no mérito. Feita essa ressalva, a Argentina, assim como Brasil, oferece excelentes surpresas ano após ano, e se colocarmos para consideração a repercussão geral, “O Mal Que Nos Habita” não só saiu da bolha, como vem conquistando espaço nas salas de cinema mesmo após meses desde o lançamento oficial.

Os irmãos Pedro (Ezequiel Rodriguez) e Jimmi (Damián Salomón) encontram um cadáver brutalmente mutilado próximo à sua propriedade rural e decidem investigar o misterioso incidente. À medida que mergulham nas investigações, descobrem uma série de eventos  ligados a um espírito maligno que assola a região.

O cinema frequentemente recorre a clichês, e o gênero de terror não é exceção. “O Mal Que Nos Habita” utiliza muitos deles, mas felizmente deixa de lado o mais comum nos dias de hoje: o “jump-scare”. Contudo, muitos outros elementos bem tradicionais são retratados, como as crianças que subvertem a ideia de inocência e pureza agindo como vetores do mal crescente, a influência das energias malignas nos animais, sobretudo na imagem do bode, a possessão demoníaca se revelando através de mudanças corporais grotescas, entre outras.

Todavia, a obra traz uma inovação significativa: a maneira como a possessão se espalha, semelhante a um “vírus” que não apenas corrompe a alma do hospedeiro, mas daqueles que tentam combatê-lo e, o mais surpreendente e assustador, também daqueles que os exorciza. Ou seja, o ritual não é suficiente. É preciso seguir regras muito restritas e quase humanamente impossíveis.

Em meio a aspectos mais psicológicos da trama, o medo é tratado de forma frontal e explícita. Apesar da história seguir caminhos convencionais, as vítimas e os métodos utilizados pelo inimigo têm o potencial de surpreender. A sensação de desespero e a ideia de um caminho sem saída são nítidas, o que torna a experiência ainda mais aflitiva.

A possessão demoníaca ganhou notoriedade especialmente graças a “O Exorcista”, a obra-prima de William Friedkin que, desde seu lançamento em 1973, mudou os rumos do gênero. Anualmente, vemos essa estrutura se repetir em diversas produções, com maior ou menor êxito. A originalidade não é necessariamente uma qualidade por si só, mas “O Mal Que Nos Habita” oferece certo frescor à fórmula, o que é, no mínimo, gratificante.

Rafa Ferraz

Engenheiro de profissão e cinéfilo de nascimento. Apaixonado por literatura e filosofia, criei o perfil ‘Isso Não é Uma Critica’ para compartilhar esse sentimento maravilhoso que é pensar o cinema e tudo que ele proporciona.

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