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“O Astronauta”: Ficção com Adam Sandler traz debate melancólico sobre existência com uma…aranha gigante? | 2024

Todos nós conhecemos muito bem a extensão cômica de Adam Sandler de suas comédias desmioladas como “O Rei da Água” (1998) ou “Cada um tem a Gêmea que Merece” (2011) e das comédias românticas com Drew Barrymore (“Afinado no Amor” é uma das mais cults…). Porém, Sandler, de tempos em tempos, surpreende com papéis dramáticos altamente complexos como o Howard Ratner, de “Jóias Brutas” (2019), e o inesquecível Barry Egan, do subestimado “Embriagado de Amor” (2002), do Paul Thomas Anderson. O ator consegue trazer uma melancolia e um humor nervoso que caem como uma luva em suas composições inquietantes de homens moralmente quebrados ou tortos.

Esta mesma melancolia é sabiamente empregada em “O Astronauta” (2024), que estreou recentemente na Plataforma de Streaming Netflix. No enredo, Sandler interpreta Jakub Prochazka, um astronauta tcheco que é selecionado para uma missão solitária de viajar até Júpiter para investigar uma espécie de poeira cósmica que misteriosamente surgiu no espaço. São mais de 6 meses vivendo sozinho e tendo como único meio de comunicação direto do espaço uma geringonça que serve de canal para se comunicar com sua esposa grávida, Lenka (Carey Mulligan). A conexão entre os dois falha miseravelmente, tanto no sentido literal como no metafórico, já que Lenka se sente sozinha com a gravidez na Terra e começa a ter reflexões de que talvez não seja a prioridade na vida de seu marido.

“O Astronauta” é um exercício difícil e desafiador para Sandler, já que o longa praticamente passa quase sua duração inteira com a câmera colada no rosto do ator em um ambiente confinado e com nuances do papel indicando uma ambiguidade se o astronauta está delirando ou não após tanto tempo isolado no espaço. O visual abatido e esgotado de Jakub ressaltam esse estado de espírito inconstante que é chave para a narrativa.

Jakub encontra pela frente em sua jornada reflexões poderosas sobre sua existência ao lado de Lenka, bem como flashbacks angustiantes que ajudam a montar um mosaico sobre o passado e o futuro que espera o Astronauta na Terra. As conclusões são as mais dramáticas possíveis, tendo inclusive o suporte magistral da Trilha sonora composta por Max Richter para alavancar ainda mais a sensação melancólica que o personagem passa ao longo da obra.

Este senso delirante que o roteiro impõe ao protagonista adquire contornos fantásticos quando uma figura aracnídea gigante se materializa dentro do veículo espacial de Jakub, iniciando praticamente uma sessão de terapia com o personagem, que passa a avaliar sua vida e suas decisões à medida que os flashbacks se espalham pela tela. A criatura apelidada de Hanus ganha a voz pausada e eletronicamente modificada de Paul Dano, que acha um tom vocal assustador de cruzamento entre o robô assassino HAL 9000  de “2001 – Uma odisseia no Espaço” (1968) e o coelho medonho Frank do cult clássico “Donnie Darko” (2001). Nunca fica claro se Hanus é fruto da confusão mental do astronauta ou se é realmente uma figura extraterrestre que assume a forma de uma aranha gigante. Seja o que for Hanus, a idealização daquele ser, mesmo com aparência repugnante inicialmente, aos poucos vai criando com o público e o protagonista um vínculo carinhoso entre eles. Até de ternura..

Uma sumida Isabella Rosselini ainda dá as caras por aqui como a Chefe da missão, Tuna, em uma curta interpretação da atriz , porém inspirada. A direção fica a cargo do Johan Renck, que previamente dirigiu a badalada série da HBO, “Chernobyl” (2019). O roteiro do Colby Day é uma adaptação do livro “Spaceman of Bohemia”, do escritor Jaroslav Kalfar.

Marcello Azolino

Advogado brasiliense, cinéfilo e Profissional da indústria farmacêutica que habita São Paulo há 8 anos. Criou em 2021 a página @pilulasdecinema para dar voz ao crítico de cinema e escritor adormecido nele. Seus outros hobbies incluem viagens pelo mundo, escrever roteiros e curtir bandas dos anos 80 como Tears For fears, Duran Duran e Simply Red.

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