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“Noel Rosa – Um Espírito Circulante”: documentário celebra a obra de Noel Rosa e o mítico do bairro de Vila Isabel | 2025

A biografia de Noel Rosa já foi explorada de muitas maneiras a partir de livros, dos próprios documentários e do cinema de ficção. Isso nos leva a seguinte pergunta: que novidade ou qual ponto de vista poderia ser abordado em mais um documentário sobre esse extraordinário compositor? Noel Rosa, como se sabe, teve uma vida breve e intensa. Boêmio confesso e orgulhoso, o Poeta da Vila costumava perambular entre os bares da Lapa e de Vila Isabel desde as primeiras horas da noite até o raiar do dia seguinte. Morreu aos 26 anos e deixou um legado de mais de 200 canções. Tudo isso é sabido. Então, o que há de diferente para se dizer? “Noel Rosa – Um Espírito Circulante” é uma reposta lúdica da diretora Joana Nin a essas perguntas, ao produzir um documentário musical que foge às convenções do gênero.

Diante da grande quantidade de informações sobre a vida de Noel Rosa, a abordagem de Joana Nin propõe uma visão que busca encontrar os rastros deixados pelo compositor no mítico bairro de Vila Isabel, na zona norte do Rio de Janeiro. O filme cria paralelos entre o passado e o presente, sobretudo pela forma como o samba e a figura de Noel se misturam até hoje ao redor de seu berço criativo. Vozes como de Cartola, Aracy de Almeida e Marília Batista, se juntam às de intérpretes atuais, como Dory Caymmi, Moacyr Luz, Mart´nália, Edu Krieger, entre outros.

Entretanto, o que mais chama a atenção é como a aura (o espírito circulante) de Noel Rosa ainda inspira artistas anônimos da região e permeia cada esquina do bairro. Na Praça Barão de Drummond, com um banquinho colocado ao lado da estátua do compositor, moradores são convidados a sentar-se e falar sobre como Noel ainda influencia e ajuda a manter acesa a fama boêmia e criativa de Vila Isabel. Apesar das enormes mudanças pelas quais a cidade passou desde sua morte em 1937, sua figura ainda é bastante presente, dando nome a bares, restaurantes, bancas de jornal e ao túnel que liga o bairro ao seu vizinho Sampaio.

Ao deixar a câmera passear pelas calçadas de pedra portuguesa adornadas com as notas musicais de seu mais ilustre morador, o documentário nos lembra que ali é terra que segue inspirando novos artistas, sejam eles vindos das ruas do bairro ou do Morro dos Macacos. A favela, aliás, era assiduamente frequentada por Noel Rosa e o inspirou a escrever inúmeras canções. Essa mistura entre asfalto e favela é um dos aspectos mais fascinantes de sua personalidade. O samba, ainda visto como vadiagem naqueles anos inaugurais do século XX, sofria com o preconceito das autoridades e das elites. Mas a música, que não conhece preconceitos, fez de um homem branco de classe média, que se vestia como um fidalgo, o instrumento de combate a este absurdo. Como diz uma das entrevistadas, moradora da comunidade: “nosso Noel não é erudito, é bagaceiro”. O resto é história.

Vitor Pádua

Advogado que expia o juridiquês com a paixão pela fotografia e pelo cinema.

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