“Meu Malvado Favorito 4”: Entre usuais exageros e simplificações, novo filme aposta no seguro e ri do público | 2024
Vocês é que estão desconfortáveis à toa
O dinheiro move o mundo, e o cinema é um mercado bilionário. O debate sobre a separação entre arte e produto tem se estendido há anos no meio cinéfilo devido ao alto índice de franquias que, mesmo com episódios pseudo-fechados em si, nunca concluem nada de forma honesta e verdadeira. E na época das férias de verão do hemisfério norte, quando uma enxurrada de filmes disputa a atenção do público por algumas migalhas de bilhão, parece que vale tudo para fazer um pé de meia para colocar um sorriso no rosto dos acionistas. O filme da vez, como você já deve imaginar, é só mais um desses produtos.
Ninguém espera do estúdio Imagination algum nível de profundidade que se equipare à Pixar ou aos ótimos títulos da DreamWorks, mas é assustador o quão raso “Meu Malvado Favorito 4” consegue ser. Se em “Divertida Mente 2” há um mergulho em questões intimamente intrincadas, aqui mal se dá para molhar a sola do pé. Em mais de vinte anos frequentando cinemas, pouquíssimas ocasiões me provocaram tanta apatia quanto ocorreu nesse novo filme da família Gru. O filme não é detestável, mas é tão vazio que é possível ouvir o eco das moedas caindo na conta do estúdio reverberando enquanto um bando de idiotices cabais é despejada sobre o público. É como se o próprio filme risse da fortuna que está fazendo ao entregar lixo de bandeja a quem o assiste.
Assumindo seu caráter estritamente mercadológico, o filme se resume à criação de uma autopropaganda de si mesmo para engajar a venda de brinquedos e demais produtos licenciados. Para alguns espectadores, principalmente do público infantil, o filme talvez – e um enorme talvez – se valha como um entretenimento casual. Das crianças presentes na sessão que estive, tomando como parâmetro, nenhuma gargalhou ou sequer riu alto. A mim o filme foi nada além de um cansativo merchandising desprovido de qualquer criatividade inventiva. Tudo é gratuito, sem muito sentido e completamente nulo em complexidade. Nada que é apresentado é minimamente desenvolvido ou devidamente justificado, a não ser, talvez, pela motivação do vilão, que ainda assim é tão estúpida quanto sofrível.
Para não dizer que o filme é de todo um caso perdido, há duas boas referências ao cinema clássico moderno que dão um sorrisinho de canto de boca aos adultos; um aceno a “Homem-aranha 2”, de 2004, e ao T-1000 de “O Exterminador do Futuro 2”, lançado em 1991. Fora isso, nem a doce e queridinha Agnes consegue salvar o filme de um desastre colossal. Vai render dinheiro? Claro que vai, mesmo sendo uma bobajada abismal que subestima totalmente o intelecto das crianças, esse tipo de filme atrai público. E para dizer que fez algo diferente, trouxe de volta todos os vilões da franquia em uma cena musical que te faz dar graças a Deus por o filme estar acabando. São os exageros de sempre, os atalhos de sempre, e tudo mais que caracteriza um filme dessa franquia já esgotada e nitidamente cansativa. Nenhuma novidade que possa ser chamada de nova. Lamento pelos pais ou responsáveis que tiverem a missão de gastar 1h30 de suas vidas com uma obra tão vazia e sem graça. E Agnes, minha querida, quem quer quebrar um tijolo na testa agora sou eu.