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“Meu Casulo de Drywall”: Filme de Caroline Fioratti aposta em retrato angustiante da juventude da classe média contemporânea | 2024

“Meu Casulo de Drywall” propõe um mergulho intrigante nas camadas das relações sociais entre jovens de classe média alta de um condomínio paulista. O pano de fundo para a narrativa é o aniversário de 17 anos de Virginia (Bella Piero), uma jovem melancólica que parece constantemente se frustrar com a formatação de sua vida e com os eventos que se sucedem durante sua festa de aniversário. Ela tem um relacionamento amoroso instável com Nicolas (Michel Joelsas), que enfrenta a figura opressora de seu pai em casa, enquanto sua melhor amiga, Luana (Mari Oliveira), é negligenciada pela mãe depressiva e aposta todas as fichas em escapar de sua rotina extenuante, planejando fazer universidade em Florianópolis com a protagonista.

O longa se concentra na festa de Virginia e faz uso das idas e vindas temporais para contar a história e dissecar tudo que circundou uma tragédia que ocorreu na festa. A diretora e roteirista Caroline Fioratti declarou recentemente que se inspirou em filmes como “As Virgens Suicidas” (1999) e “Kids” (1995) para conduzir esta trama que não poupa o expectador de se chocar com o retrato de uma juventude frágil, carente de atenção e disposta a usar sexo casual, drogas, automutilação e pequenas infrações no condomínio como válvula de escape para o vazio existencial que circunda a vida dessas personagens.

Virginia mora em um apartamento luxuoso com sua mãe, Patrícia, interpretada com intensidade pela atriz Maria Luísa Mendonça. A mãe é desquitada do pai, que é juiz e é vivido brevemente pelo ator Caco Ciocler. Uma boa parte do roteiro investe na relação entre mãe e filha, abordando os conflitos e inseguranças existentes entre as duas.

A obra consegue manter o público engajado ao compor um mosaico de histórias dos jovens que moram no condomínio e que estavam na festa de Virginia. Ao arranhar a superfície desses adolescentes e aos poucos mostrá-los em sua intimidade com seus monstros e dramas pessoais, a diretora Caroline Fioratti propõe uma importante reflexão sobre o estado mental da juventude contemporânea e as relações delicadas entre pais e filhos pautadas pela falta de diálogo.

O filme pode ser dividido entre as cenas da festa no apartamento de Patrícia e Virginia, filmadas com uma estética escura e com neons que evocam uma espécie de vertigem visual, e as cenas de luto pós-festa com as consequências da tragédia anunciada que envolve as personagens. Cada um reage de maneira particularmente desconcertante ao fato trágico, em especial Patrícia, que entra numa espécie de transe frenético e de descontrole. Menção honrosa para o trabalho da atriz Maria Luísa Mendonça, que encara uma composição delicada e de bastante entrega emocional. Bella Piero, mais conhecida por sua participação na telenovela “Verdades Secretas” (2015), tem a oportunidade de mostrar seu talento de maneira sutil, com bastante expressividade em seus olhos e com poucas palavras.

“Meu Casulo de Drywall” foi a única obra brasileira selecionada para integrar o Festival norte-americano SXSW (South by Southwest) em 2023. Agora, o público brasileiro tem a oportunidade de enfim conferir nas salas de cinema uma temática pouco explorada no cinema nacional: as “rachaduras” do estilo de vida da classe média alta e o grito de socorro dos jovens alienados pelo vazio da sociedade moderna.

Marcello Azolino

Advogado brasiliense, cinéfilo e Profissional da indústria farmacêutica que habita São Paulo há 8 anos. Criou em 2021 a página @pilulasdecinema para dar voz ao crítico de cinema e escritor adormecido nele. Seus outros hobbies incluem viagens pelo mundo, escrever roteiros e curtir bandas dos anos 80 como Tears For fears, Duran Duran e Simply Red.

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