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“Kubrusly – Mistério Sempre Há de Pintar Por Aí”: Doc mescla retrospectiva profissional com a rotina do popular jornalista contra o esquecimento | 2024

O jornalista carioca Maurício Kubrusly se tornou mais conhecido do grande público a partir do sucesso do quadro Me Leva Brasil, que permaneceu no ar por anos no Fantástico, no qual percorria diferentes cidades dos rincões do nosso território atrás dos mais inusitados personagens da vida real. Contudo, o que pouca gente sabe é que, bem antes de ser destaque na atração dominical e nas coberturas de carnavais, ele possui uma respeitada carreira como colunista e repórter cultural. Diagnosticado com um quadro de demência frontotemporal, esse homem conhecido por lembrar com facilidade de nomes e trechos de canções – sua maior paixão profissional – e que ajudou a registrar parte da memória da cultura popular brasileira através de seu trabalho, hoje, luta para manter algum resquício da sua.

Lançado no Globoplay, o documentário “Kubrusly – Mistério Sempre Há de Pintar Por Aí” procura apresentar as várias facetas do profissional repleto de histórias incríveis (como aquela em que vai comprar absorventes para Brigitte Bardot) e a sua nova condição. Vivendo atualmente no litoral da Bahia, Kubrusly é filmado na abertura do longa frente à beleza e o isolamento do lugar, em momentos que aos poucos vão mostrando sua rotina ao lado da esposa Beatriz. Em paralelo a esses instantes de intimidade, a montagem promove uma espécie de retrospectiva da carreira do jornalista nos mais diversos veículos. De sua fase como crítico musical, por exemplo, surgem imagens de arquivo com provocações e trechos de entrevistas feitas por ele com artistas importantes que vão de Chico Buarque aos Mamonas Assassinas.

Esteticamente falando, o documentário dirigido por Caio Cavechini e Evelyn Kuriki não possui grandes ambições, servindo como um competente registro profissional e humano de uma figura notória em momento de extrema fragilidade (como não sentir um aperto no coração ao vê-lo chamando insistentemente pela esposa num dos raros momentos em que ela se ausenta de casa) enquanto o dignifica através de um olhar respeitoso e carregado de admiração. Se não oferece um conceito audiovisual que o diferencie de qualquer especial televisivo padrão Globo, a narrativa nos mantém engajados sobretudo quando se fixa no cotidiano do casal – com os inevitáveis questionamentos acerca do avanço da doença –, nas comoventes tentativas de Beatriz em estimular as reações do marido, lembrando um pouco o belo documentário chileno “A Memória Infinita” (2023), e nas suas interações com os amigos, dentre as quais se destaca o reencontro com Gilberto Gil.

Embora soe por vezes como uma espécie de matéria especial estendida do Fantástico, “Kubrusly – Mistério Sempre Há de Pintar Por Aí” faz um retrato bastante honesto de uma das personalidades mais populares do jornalismo cultural brasileiro dos últimos anos. Embora preso em sua proposta limitada, o longa cumpre a sua única função aparente, aproximando o homenageado mais uma vez do público que tanto o admira e não permitindo que ele seja levado pelo esquecimento.

Alan Ferreira

Professor, apaixonado por narrativas e poemas, que se converteu ainda na pré-adolescência à cinefilia, quando percebeu que havia prendido a respiração ao ver um ônibus voando em “Velocidade Máxima”. Criou o @depoisdaquelefilme para dar vazão aos espantos de cada sessão e compartilhá-los com quem se interessar.

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