“Jardim dos Desejos”: Novo filme de Paul Schrader nos convida a refletir sobre redenção e a natureza da violência | 2024
Paul Schrader é um cineasta renomado na indústria cinematográfica mundial e foi figura chave na “Nova Hollywood”, período crucial para o cinema americano. Sua fama inicialmente veio através de roteiros icônicos como os de “Taxi Driver” e “Touro Indomável”, ambos em colaboração com Martin Scorsese. Embora não tenha alcançado o mesmo reconhecimento como diretor, Schrader tem uma marca autoral distinta que reverbera o cinema clássico. Em “Jardim dos Desejos”, ele tece uma narrativa singular que se alinha estreitamente com seus trabalhos anteriores, “Fé Corrompida” (2017) e “O Contador de Cartas” (2021), formando uma “Trilogia Bressoniana”, abordando temas contemporâneos com seriedade e austeridade.
Na trama acompanhamos Narvel Roth (Joel Edgerton), um horticultor meticuloso que trabalha com devoção aos Jardins Gracewood e à sua empregadora, a viúva abastada Sra. Haverhill (Sigourney Weaver). No entanto, sua vida meticulosamente organizada é abalada quando a Sra. Haverhill pede para acolher sua sobrinha-neta, Maya (Quintessa Swindell), como aprendiz. Conforme Maya adentra os jardins, segredos obscuros e um passado violento, há muito enterrados, começam a emergir, colocando em risco a serenidade do lugar e a segurança de todos.
Em “Jardim dos Desejos”, como é típico nos filmes de Schrader, os diálogos, até mesmo os mais breves, são marcados por uma precisão acima da média. As interações frequentes entre os personagens são profundamente reveladoras de suas personalidades, sem nunca tornar o filme expositivo. No entanto, os flashbacks não seguem essa sutileza, expondo camadas que seriam melhor trabalhadas se apenas sugeridas.
Joel Edgerton se destaca na filmografia de Schrader ao assumir um papel com notáveis semelhanças aos personagens previamente interpretados por Oscar Isaac em “O Contador de Cartas” e Ethan Hawke em “Fé Corrompida”, sugerindo uma possível “conexão espiritual” entre eles. Visualmente, o filme apresenta contrastes marcantes: predominam os tons pastéis, apesar de se passar em cenários predominantemente de jardins esplendorosos. Uma sequência lúdica, ainda que desvie um pouco dessa lógica visual, é bem integrada ao filme e ressoa com o que no cinema de Ingmar Bergman, outra grande inspiração de Schrader, é frequentemente referido como “instante de felicidade”.
“Jardim dos Desejos” é uma obra que, embora marcada por uma narrativa um tanto distanciada, consegue harmonizar a estética visual com a profundidade de seus personagens e temas. O filme não apenas solidifica o lugar de Schrader no panorama do cinema moderno, mas também destaca sua habilidade em criar histórias que refletem sobre a condição humana de maneira poética e ao mesmo tempo perturbadora, um exemplo notável de como o cinema pode explorar as facetas mais sombrias e belas da alma do homem.