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“Instinto Materno” : Graças a Anne Hathaway, longa escorrega, mas não cai | 2024

Refilmagem do longa homônimo franco-belga de 2018, “Instinto Materno” transporta a trama da Europa para o subúrbio americano no ano de 1960. Com uma narrativa clássica e uma reconstituição de época impecável, o filme inicia de maneira promissora, apresentando uma típica família de classe média dos Estados Unidos imersa em um cotidiano feliz, mas sutilmente introduz sinais de tensões iminentes. À medida que a história avança, essa sofisticação narrativa vai se desgastando devido a reviravoltas por vezes forçadas, e ao final, somente as performances da dupla de protagonistas permanecem com algum destaque.

A vida perfeita de Alice (Jessica Chastain) e Céline (Anne Hathaway), amigas de longa data, é abruptamente abalada por um trágico acidente. O evento devastador marca o início de uma espiral descendente, transformando a tragédia em um campo minado de segredos e mentiras.

As performances são indubitavelmente o destaque do filme. Jessica Chastain entrega uma atuação impecável, mas é Anne Hathaway quem verdadeiramente brilha. Com tempos de tela similares e uma interação constante entre as duas, o que diferencia Hathaway é sua habilidade em navegar por uma gama mais ampla de emoções com profundidade e versatilidade. Enquanto Chastain constrói sua personagem através de uma progressão contínua, intensificando gradativamente, Hathaway nos leva em uma jornada emocional imprevisível, alternando entre momentos de calma e tempestade.

Já o roteiro, infelizmente, é o ponto fraco. Apesar de ambicioso em sua tentativa de transitar entre diferentes gêneros, essa abordagem não é bem-sucedida na maioria dos casos. Os momentos focados no mistério, por exemplo, sofrem com a introdução abrupta de elementos do passado, como um evento marcante na vida de Alice, que parece emergir do nada. A falta de coesão entre os gêneros explorados resulta em uma estrutura narrativa fragmentada, ou seja, os gêneros funcionam quando trabalhados isoladamente, mas pouco dialogam.

Nota-se um reforço preocupante ao desequilíbrio e ao despreparo emocional atribuídos às mulheres, refletindo crenças enraizadas na cultura machista dos anos 60. Esses elementos ainda encontram ressonância na sociedade contemporânea, e com isso, o filme repercute estereótipos bastante datados.

Em suma, o filme se desenrola como um drama cativante, que gradualmente se infiltra nas veias do suspense e mergulha nas águas do mistério até seu clímax surpreendente. E o que nos reserva esse desfecho? Será uma reviravolta inesperada rumo ao terror, ou um retorno tranquilo aos alicerces do drama inicial? A resposta está à sua espera.

Rafa Ferraz

Engenheiro de profissão e cinéfilo de nascimento. Apaixonado por literatura e filosofia, criei o perfil ‘Isso Não é Uma Critica’ para compartilhar esse sentimento maravilhoso que é pensar o cinema e tudo que ele proporciona.

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