“Imaculada”: Longa faz ressurgir o ‘Nunsploitation’ em trama tensa e de final aterrador | 2024
O ‘Nunsploitation’ é um subgênero cinematográfico que ganhou destaque nos anos 70 e 80, focando na representação de freiras em contextos controversos. Os temas frequentemente explorados incluem repressão sexual, pecado e culpa, ambientados em conventos sombrios e isolados—cenários perfeitos para desvendar a corrupção, hipocrisia e abuso de poder dentro da igreja católica. “Imaculada” resgata essa abordagem, com uma pegada contemporânea, além de mais uma performance marcante da jovem do momento, Sydney Sweeney.
Na trama acompanhamos Cecilia (Sweeney), uma jovem devota que ingressa em um convento no interior da Itália. Porém, seu novo lar logo se revela um lugar de segredos aterrorizantes.
Os primeiros anúncios de “Imaculada” causaram certa surpresa devido a presença de Sydney Sweeney no papel principal. Conhecida pela atuação no seriado “Euphoria”, a atriz alcançou fama entre o grande público com sua participação em dois blockbusters recentes, “Madame Teia” e “Todos Menos Você”, ambos bem distantes do gênero terror. No entanto, as surpresas não param por aí. Sweeney não apenas estrela o filme, mas também é produtora, representando sua própria empresa, a Fifty-Fifty Film.
As filmagens ocorreram em Roma, e o aspecto mais notável do filme é a ambientação. A escolha de locação foi acertada não apenas pelo impacto visual, mas pelo uso estratégico dos espaços. Os salões com tetos altos e grandes vitrais destacam a suntuosidade do edifício, enquanto salas estreitas, mesmo as bem iluminadas, criam um ambiente claustrofóbico, como uma prisão. O uso das sombras amplifica o suspense, instigando o medo não apenas do que é visível, mas também no que está oculto. Outro contraste interessante são as tomadas externas, a maioria diurnas, mas ainda assim imprimindo uma atmosfera de opressão e estranheza em plena luz do dia.
Com enfoque na construção de um mistério intrigante, a primeira metade é marcada por um conteúdo mais sugestivo. O desenvolvimento é meticuloso e, mesmo que o ritmo seja mais cadenciado, não se torna monótono. Já na segunda metade, um ponto de virada na trama acelera os eventos, impulsionando a narrativa para um clímax frenético. Contudo, o filme enfrenta dificuldades na costura entre esses momentos tão distintos, recorrendo a conveniências de roteiro bastante comuns. Ainda que chamar um roteiro de “preguiçoso” possa soar clichê, é difícil ignorar que o avançar da trama se dê porque a protagonista encontra convenientemente uma pasta cheia de fotos e documentos que revelam exatamente o que ela precisa saber. Uma saída como essa compromete a imersão e faz aumentar o sentimento de previsibilidade, o que para um suspense é quase fatal.
“Imaculada” fez sua estreia no festival South by Southwest e, com um orçamento próximo dos 10 milhões de dólares, não se enquadra precisamente como uma produção independente. Ainda assim, se distingue do típico ‘horror de shopping center’, e apesar de se apoiar em convenções do gênero e não apresentar nada de novo, consegue de maneira satisfatória capturar a atenção, oferecendo uma trama engajante que culmina em um final de tirar o fôlego.