“Horizonte”: Longa de estreia de Rafael Calomeni retrata a reinvenção e a paixão na terceira idade | 2023
“Horizonte”, filme que foi destaque em diversos festivais pelo Brasil, é a estreia com pé direito na direção de longas do ator Rafael Calomeni, que há 20 anos causou frisson em sua aparição na tevê. Nesse trabalho atrás das câmeras o ator e cineasta tem a responsabilidade de dirigir atores do quilate de Raymundo de Souza, Ana Rosa, Suely Franco e Alexandra Richter. O longa, que aborda o nascimento de uma paixão na terceira idade, é todo ambientado em Aparecida de Goiás e também foi todo rodado por lá.
Nessa comovente história, conheceremos Rui (Raymundo de Souza), um senhor de 72 anos que após perder seu irmão, começa a ter sérios conflitos com Juarez, seu sobrinho, que não suporta mais dividir o mesmo teto com o tio. O homem é a todo tempo hostilizado pela família, mas um dia decide tomar uma atitude drástica: sair de casa e procurar um lugar para morar e seguir vivendo em paz.
É depois de ir para esse local chamado Vila Horizonte, feito para pessoas como ele, em geral sem parentes e com renda abaixo dos dois salários, que ele vai descobrir que poderia viver uma nova vida, não só pela independência mas também pela oportunidade de viver um grande amor com Jandira (Ana Rosa), uma mulher sisuda, arredia e que não gosta de se aprofundar em qualquer assunto, mas fica horas e horas ouvindo Rui cantar e tocar seu violão. É aí que começa o gostoso jogo de conquista.
Rui, mesmo após toda uma vida, nunca havia se apaixonado, e a interpretação de Raymundo de Souza tem tantas nuances que fica impossível não ser pego pela transformação desse homem que está prestes a nascer de novo. Da inanição e indiferença, o personagem vai ganhando cores e risos e junto à isso chega também uma voz e um canto, outra boa sacada de Calomeni. Raymundo, inclusive, contou que fez muitas aulas de canto para encarnar Rui, e é muito natural a forma como ele vai tomando posse da autoconfiança dessa nova persona. O contraste dessa alma radiante com o mal humor de Jandira resulta em empatia imediata no público.
O roteiro de Dostoiewski Champangnatte (de “Fala Sério, Mãe”) estabelece dois momentos: de um primeiro ato sujo e cru, endossado pela fotografia de Larry Machado (assim como o estado emocional de Rui), o longa migra para um visual limpo e sóbrio, que carrega nas suas tintas boas perspectivas e energias otimistas, elevando a mensagem sobre segundas chances e primeiros amores na terceira idade.
Pode parecer que estamos falando de um trabalho imerso em grandes clichês, e talvez até seja, mas o que diferencia “Horizonte” dos já conhecidos romances na melhor idade é a delicadeza e a noção de Calomeni de não querer fazer desse projeto o que ele não é, apostando na velha e boa máxima do menos é mais. Felizmente o longa ganhou distribuição e já está no circuito de cinemas do país. Se eu fosse você corria pra sala mais próxima.