“Histórias Que É Melhor Não Contar”: Longa traz cinco deliciosas historietas sobre o quotidiano| 2024
“Histórias Que É Melhor Não Contar” é uma divertida comédia de quotidiano que nos apresenta cinco histórias autônomas com personagens diferentes que poderiam ser qualquer um de nós. O que elas tem em comum são as situações corriqueiras e constrangedoras pelas quais os personagens passam, envolvendo relações falidas, tensão sexual, segredos, intrigas entre amigos e principalmente o fato das pessoas nunca quererem ficar “por baixo”, se sentindo inferiores ou passadas para trás quando tem o ego ferido.
Como em toda antologia, um episódio sempre se destaca mais que o outro. Na primeira e melhor história conhecemos Álex e Laura, vizinhos que viram amigos passeando no parque com seus cachorros; num desses dias eles acabam numa confusão que rende os momentos mais divertidos do filme, numa comédia de erros enxuta mas eficiente.
No segundo episódio acompanhamos Luís, um homem que não consegue superar a ex-mulher e por isso é compelido por um casal de amigos a ir pra balada para encontrar com uma pretendente. Na tentativa de ser inclusiva e levantar uma certa polêmica, essa história não é tão envolvente e termina como um simples rascunho com potencial desperdiçado.
Já o terceiro conto é bem mais cativante, foca na amizade e inveja femininas e arranca sorrisos: três amigas que são atrizes se encontram num teste para um filme, e numa pausa pro cigarro elas começam a revelar segredinhos (seriam eles verdadeiros?), criando uma vida idealizada apenas para impressionar umas as outras. Um bom final aberto deixa ótimas dúvidas no ar, e a vontade de conhecer mais sobre essas amigas.
O quarto retrata um senhor já idoso e sua paixão platônica por uma ex-aluna bem mais jovem, e a situação patética em que ele se coloca por causa dela; essa história nos faz questionar se uma relação entre pessoas com muitas décadas de diferença de idade é viável na prática, e o quão alguém pode parecer tolo quando apaixonado. Já o último episódio é o menos atraente. Acompanhamos um casal em crise e prestes a ter seu terceiro filho que resolve colocar as cartas na mesa sobre traições passadas. O elenco extraordinário agrega mais qualidade aos bons episódios e salva os menos inspirados com ótimos timing e interpretações.
O diretor espanhol Cesc Gay imprime um humor ácido a esses cinco contos, mostrando as imperfeições e pequenas mas perdoáveis escorregadas morais desses personagens de classe média alta na cidade de Barcelona. A cadência e leveza dos episódios lembram os roteiros de Woody Allen, porém sem os seus desfechos geniais. E que bom que essas histórias, apesar de embaraçosas pros seus protagonistas, foram contadas, pois elas não só conseguem tirar boas risadas, mas nos propõem boas reflexões sobre a necessidade de controlar nossas emoções mais básicas.