⚠️ VEJA OUTRAS CRITICAS DO PAPO EM NOSSO ACERVO (SITE ANTIGO).

ACESSAR SITE ANTIGO
PitacO do PapO

“Golpe de Sorte em Paris”: Novo filme de Woody Allen recicla temas recorrentes de sua carreira, como sorte e destino | 2024

Lançado oficialmente no Festival de Veneza, no ano passado, “Golpe de Sorte em Paris” (Coup de Chance) é o 50º filme da carreira do diretor e roteirista Woody Allen. Todo filmado em Paris e falado em francês, o longa funciona como uma releitura de filmes cultuados do diretor como “Match Point” (2005) e “Crimes e Pecados” (1989) no contexto parisiense. Mais uma vez, Allen propõe uma reflexão sobre o quanto a sorte desempenha um papel fundamental nos contornos do nosso destino seja para o bem, ou para o mal.

Dessa vez, acompanhamos o ponto de vista de Fanny (Lou de Laâge), a esposa troféu do milionário Jean (Melvil Poupaud). Fanny é linda e interessante, porém entediada com os inúmeros protocolos sociais que é envolvida pelo seu marido. Ela trabalha numa Casa de Leilões e por um golpe do destino, encontra por acaso um ex -colega de escola que nutria uma paixão avassaladora por ela quando eram mais jovens, Alain (Niels Schneider). Alain é escritor e está morando em Paris por um tempo com o intuito de produzir sua mais nova obra. O encontro fortuito acaba virando uma relação extraconjugal entre os dois e gerando uma paixão avassaladora.

É claro que Jean eventualmente descobre que está sendo traído e decide tomar medidas drásticas para interromper a relação de sua mulher com o escritor boêmio e modesto. Diferente dos longas anteriores de Allen que possuíam a mesma estrutura de traição, conflito e resolução drástica, “Golpe de Sorte em Paris” investe em alguns plot twists que infelizmente comprometem a verossimilhança da trama, apelando para uma resolução absolutamente difícil do público comprar.

Outro problema que compromete de certa forma a experiência narrativa é a forma como o personagem Jean é construído: um milionário possessivo sem qualquer camada de complexidade. Jean não mede esforços para eliminar qualquer pessoa que cruze seu caminho, é mimado, egocêntrico e existe até um elemento que Allen decide reiteradamente mostrar, que é sua obsessão por uma maquete gigantesca com trens elétricos de miniatura que guarda em sua residência. Talvez um subtexto, não tão sutil assim, de infantilidade ou criancice da personagem. Enquanto em “Crimes e Pecados”, Martin Landau guardava remorsos de suas ações e era atormentado pelos fantasmas de suas decisões tortas, Jean não dá a mínima para moral ou arrependimento. Segundo ele, “nós fazemos a nossa própria sorte” e pronto!

Enquanto o amante Alain não encontra também um ator a altura para conquistar o público, o grande destaque do elenco fica mesmo para as atrizes Lou de Laâge e Valérie Lemercier, que interpretam mãe e filha. São elas que dão tração aos eventos da trama, deixando-a sexy, engraçada ou simplesmente intrigante. A máxima de que Woody Allen sempre escreveu melhor personagens femininos se aplica invariavelmente aqui neste caso.

Tal qual em filmes recentes do diretor como “O Festival do Amor” (2020) e “Roda Gigante” (2017), o diretor de fotografia e fiel escudeiro, Vittorio Storaro, faz um trabalho visual brilhante. Em “Golpe de Sorte em Paris” Paris está belíssima com sua fotografia que ressalta o outono em parques ou mesmo no country side parisiense quando Jean e Fanny vão passar fins de semanas tediosos com amigos da alta sociedade.

“Golpe de Sorte em Paris” enfrenta bastante dificuldade de encontrar distribuição nos cinemas pelo mundo. Nos Estados Unidos, o filme foi lançado recentemente em pouquíssimos cinemas de arte das principais capitais, simultaneamente com Plataformas Digitais. Woody Allen ainda sofre do cancelamento em relação a polêmica envolvendo Mia Farrow e sua filha Dylan. Controvérsias à parte, “Golpe de Sorte em Paris” não é uma obra que acrescenta muito à cinematografia do diretor nova iorquino, sendo mesmo uma reciclagem de temas previamente abordados em outros filmes superiores dele. Allen continua produtivo e com mil ideias para voltar a filmar as histórias que o consagraram tendo Nova Iorque como pano de fundo. A grande questão que circunda o diretor é: qual estúdio estaria disposto a financiar seu próximo projeto nos Estados Unidos…

Marcello Azolino

Advogado brasiliense, cinéfilo e Profissional da indústria farmacêutica que habita São Paulo há 8 anos. Criou em 2021 a página @pilulasdecinema para dar voz ao crítico de cinema e escritor adormecido nele. Seus outros hobbies incluem viagens pelo mundo, escrever roteiros e curtir bandas dos anos 80 como Tears For fears, Duran Duran e Simply Red.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo