“Garra de Ferro”: Drama trágico com Zac Efron aprofunda a vida da família Von Erich na luta livre | 2024
No inicio de ‘Garra de Ferro’, o protagonista Kevin Von Erich (Zac Efron) anuncia para o público: “Desde que eu era criança, as pessoas diziam que a minha família é amaldiçoada…”. Não é muito difícil constatar que uma nuvem carregada de fato pairava sob a cabeça da família Von Eirich nos anos 70 e 80, época em que acumularam diversos prêmio na Luta Livre norte americana. O pai, Fritz Von Erich, interpretado pelo ótimo Holt McCallany (‘Mindhunter’), era um ser humano implacável e seco que tinha a única pretensão de alavancar a carreira nos ringues de seus 4 filhos: Kevin, Kerry, David e Mike.
Não existem caminhos fáceis para os 4 meninos, que mesmo que desenvolvessem aptidões em outras áreas eram forçosamente engolidos pela ambição do pai de transformar a família em vencedores de luta livre a qualquer custo. Caso do filho Mike, que tinha uma banda de garagem e demonstrava ser um potencial músico até seu pai escalá-lo para ser lutador profissional a contragosto.
O filme consegue dar uma visão geral das personalidades e particularidades de cada um dos filhos, apesar de o enfoque ser mais dedicado ao trabalho de Zac Efron como Kevin. Todo o buzz gerado pela aparência do ator, bem como pelo desafio de assumir um papel dramático desta envergadura impressionam de fato. Efron está com o corpo escultural e com uma aparência quadrada que reflete a dureza dos treinos intensivos que o papel requereu. O ator, mais conhecido por ser um astro teen de High School Musical, demonstra sensibilidade e um olhar doce e devastador ao mesmo tempo toda vez em que entra em cena. Seu Kevin é o filho mais sensato e maduro dos 4 e é mérito de Efron dar o tom certo para o papel mais complexo de sua carreira até o momento.
Depois de quase uma hora de duração, entra em cena o segundo filho com mais destaque no enredo, Kerry, interpretado pela sensação do momento em Hollywood, Jeremy Allen White (mais conhecido pela série ‘The Bear’). Sua participação também é intensa e possui o arco dramático mais conturbado dos filhos. E por falar em histórias conturbadas, a família Von Erich é mestre neste quesito! ‘Garra de Ferro’ é um filme tão deprimente que chega a ser difícil de acreditar que tantas tragédias e fatos horrorosos tenham acontecido realmente no histórico da família, mas é tudo verdade. Aconselho também a não buscarem informações sobre a família, caso os leitores já não conheçam previamente, pois pode cortar muito o impacto dos acontecimentos.
À medida que os fatos vão se desenrolando na família, a mãe, totalmente subjugada ao marido, encontra força na atuação silenciosa da atriz Maura Tierney, e qualquer fração de leveza que o filme cede espaço fica a cargo da belíssima e talentosa atriz Lily James, que mesmo sendo inglesa, faz um trabalho excepcional ao assumir o papel de Pam, interesse romântico de Kevin e com um sotaque texano impecável.
A direção e o roteiro ficam a cargo de Sean Durkin, que gosta de assumir enredos complexos como foi com a recente série da Amazon ‘Gêmeas: Mórbida Semelhança’ (2023) e o ótimo, porém esnobado drama ‘O Refúgio’ (2020).
‘Garra de Ferro’ é um filme denso e cheio de provações para o público que perde o fôlego com tantas tragédias reunidas em um filme só. Me lembrou de outra obra que também me esgotou emocionalmente, ‘A última Ceia’ (2001). No entanto, o alto calibre das atuações do seu elenco e o pulso firme na direção e roteiro do filme, colocam esta cinebiografia em posição de destaque na safra recente de filmes.