⚠️ VEJA OUTRAS CRITICAS DO PAPO EM NOSSO ACERVO (SITE ANTIGO).

ACESSAR SITE ANTIGO
Especiais do PapoPitacO do PapO

Festival do Rio 2024: “Precisamos Falar”, de Pedro Waddington e Rebeca Diniz | 2024

Thriller psicológico tem no elenco seu ponto alto

“Precisamos Falar”, que teve sua estreia na categoria Première Brasil: Hors Concours no Festival do Rio, é o vôo solo de Pedro Waddington e Rebeca Diniz em longas-metragens. Estreia promissora por sinal. Pedro tem cinema no sangue, Andrucha Waddington e Ricardo Waddington são pai e tio, respectivamente. Andrucha aqui entra como produtor nesse suspense psicológico de teor altamente social e político.  O longa, que conta com um elenco repleto de estrelas, promove um debate que nem sequer deveria existir, mas como vivemos num mundo de hipócritas, é pertinente e tristemente verosímil o que o roteiro de Sérgio Goldenberg, uma adaptação do best-seller mundial O Jantar, de Herman Koch, tem a dizer.

A trama gira em torno de dois casais, Sandra (Marjorie Estiano) e Paulo (Alexandre Nero), e Celso (Emílio de Mello) e Anna (Hermila Guedes), cujas vidas de classe média alta são viradas de cabeça para baixo quando descobrem que seus filhos adolescentes estão envolvidos numa terrível tragédia que resultou na morte de uma estrangeira em aparente situação de rua que dormia em um caixa eletrônico. Não confessar o crime e conviver com a culpa ou orientar os filhos a assumirem seus próprios erros sejam eles do tamanho que for?  Dormir em um caixa eletrônico é tão inadmissível quanto atear fogo em alguém que não deveria estar ali? Cada um potencializa o dilema à sua maneira.

Num mundo polarizado a discussão entre a ética e a moral ganha traços carregados nas tintas, que aqui envolvem criação dos filhos, preconceitos como racismo e xenofobia, entre tantas bizarrices que são lançadas ao espectador para que cada um se faça juiz de valor. Essa é a característica mais marcante de “Precisamos Falar”, que consegue deixar do lado de fora o maniqueísmo, uma vez  que cada ação, de cada personagem, reflete o momento de vida de cada um. Ninguém ali está acima do bem e do mal, e à medida que a projeção avança, o que faz diferença é o que cada um faz com as revelações que chegam. Celso, por exemplo, vivido por Emilio de Mello, é um candidato a governador que ostenta uma trajetória ilibada diante do eleitorado, mas hesita ao pensar na possiblidade de um escândalo envolvendo seu filho.

Na sequência final, quando um jantar acontece para discutirem o futuro dos filhos, a selvageria vem à tona, mas sem deixar de escanteio o Mise en scène recheado de ironia e hipocrisia que cada personagem sustentou até o derradeiro embate. É nesse momento que o quarteto protagonista brilha,  culminando numa cartase enlouquecida, onde cada um revela seu verdadeiro eu. A direção da dupla é tão redonda que pequenas pistas sobre cada personagem vão sendo deixadas ao longo da história, o que corrobora a ofensiva no clímax. “Precisamos Falar” é sobre os reflexos de uma sociedade que não dialoga, sobre pais que educam os filhos de acordo com as próprias mazelas e preconceitos. O título do filme já é um convite. Precisamos debater muito sobre isso, mas num mundo intolerante essa tarefa se torna hercúlea a cada dia que passa.

Rogério Machado

Designer e cinéfilo de plantão. Amante da arte e da expressão. Defensor das boas causas e do amor acima de tudo. Penso e vivo cinema 24 horas por dia. Fundador do Papo de Cinemateca e viciado em amendoim.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo