Festival do Rio 2024 : “A Tristeza”, de Rob Jabbaz | 2021
As produções asiáticas de horror têm conquistado cada vez mais espaço no cinema mundial e esse reconhecimento vem se ampliando de maneira exponencial especialmente nas últimas duas décadas. Exemplos incluem “O Grito” (2002), do Japão, “Espíritos” (2006), da Tailândia, “Invasão Zumbi” (2016), da Coreia do Sul e “Impetigore” (2019) da Indonésia, que alcançaram sucesso e atraíram um grande público global. Em 2021, “A Tristeza” surgiu como destaque no cenário do terror após exibição em festivais especializados, todavia, permanece restrito a esse nicho. Em meio a essa trajetória, que pode eventualmente ampliar sua visibilidade, o longa chega ao Festival do Rio, reafirmando seu potencial e, de quebra, apresentando a um público maior o que há de mais intenso na fina arte do desgraçamento mental.
Na trama, acompanhamos a jornada de um jovem casal em Taipei, capital de Taiwan, que se vê em meio ao caos causado pela rápida disseminação do vírus Alvin. A infecção transforma as vítimas em criaturas sádicas e perversas, criando um cenário de terror e desesperança enquanto os protagonistas lutam para sobreviver nesse pesadelo urbano.
O cinema extremo existe há décadas, mas, como qualquer outra tendência, opera em ciclos. Recentemente, a franquia Terrifier se destacou como a obra que trouxe essa abordagem de volta ao circuito comercial. Esse “Efeito Terrifier” lança luz sobre o que “A Tristeza” tem a oferecer, com um padrão de qualidade que se limita à brutalidade dos eventos e à frieza com que são apresentados. Quanto a essa qualidade, é importante entendê-la dentro da proposta e execução do filme: o alcance de seus objetivos. Ainda que existam reflexões éticas pertinentes e que podem ser levantadas, “A Tristeza” cumpre seu propósito, por mais controverso que seja. Em poucos minutos de projeção, sem qualquer desenvolvimento de personagem, o público é confrontado com cenas de tortura, orgias, canibalismo, infanticídio e até necrofilia, sempre expostas em detalhes perturbadores. Somado a um trabalho excepcional de maquiagem e efeitos práticos, o filme alcança um realismo inquietante que não poupa o espectador.
Dirigido pelo estreante Rob Jabbaz, “A Tristeza” não requer grandes apresentações, optando por uma narrativa direta e intencionalmente desprovida de camadas. Embora o enredo faça alusão à pandemia de COVID-19 e aos atos negacionistas relacionados ao vírus, esses elementos são abordados de forma dispersa e previsível. A objetividade do filme é proposital e conversa diretamente com seu público-alvo: um nicho específico de espectadores que busca a experiência visceral e intensa do cinema extremo, marcada pelo banho de sangue e nada mais.