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Festival de Cinema de Paraty: “Foge-me ao Controle”, de Susanna Lira

Fernanda Young sempre foi o patinho feio da turma e não era muito de socializar. Era muito branca, estava sempre doente, era disléxica, e entre tantas confissões, disse que aprendeu a fazer poesia muito antes de aprender a ler. Foi assim que ela se encontrou num mundo que parecia não entender uma garota como ela. “Fernanda Young- Foge-Me ao Controle” é um álbum de narrativas da vida e obra da escritora, roteirista, apresentadora e atriz sob a batuta da inexorável Susanna Lira, de longas como ‘Torre das Donzelas” (2015) e “A Mãe de Todas as Lutas” (2020)

O documentário que esteve no Festival É Tudo Verdade este ano acompanha a escritora que morreu em 2019. Materna e altamente feminista, sem papas na língua e altamente afável, o projeto traça um paralelo de sua prolífica carreira com sua vida pessoal.  Cortes de “Os Normais”, “Saia Justa”, “Shippados” e tantas outras faces da artista que sacudiu a televisão brasileira e se tornou uma das vozes mais importantes da sua geração exemplificam tudo o que deixamos de ganhar desde quando ela partiu. A produção convida o espectador para uma viagem poética pela mente de Fernanda, por meio de trechos de programas em que ela esteve à frente, depoimentos que deu, imagens de sua vida pessoal ou mesmo fragmentos de seus escritos que somam um total de 15 livros.

Susanna Lira, tarimbada documentarista que é, caminha pelas vias mais sensíveis possíveis para desnudar a alma dessa grande artista. Além dos trechos das obras (nos livros ou para a televisão) o documentário entrelaça algumas cenas com trechos do cinema mudo e imagens da própria Fernanda, metafórica e literalmente se despindo diante do público. O resultado é uma tradução impecável de tudo que ela representou, não só como artista mas como mãe e mulher. É bem verdade que a certa altura, os muitos fragmentos lidos por Maria Ribeiro e ilustrados com as musas do cinema mudo, passam a impressão de estar em looping, o que acaba deixando a sensação de repetição e podem desviar a atenção do expectador ocasional.

Contudo, como fã e por sua vez suspeito para tal afirmação, devo dizer que “Fernanda Young – Foge-Me ao Controle” foi exatamente de encontro com o que eu penso que seria um projeto sobre a artista se ela estive por aqui acompanhando o processo. Disruptiva, controversa, sem medo de falar a verdade, enérgica e altamente doce. Tudo isso é traduzido em imagens  com o feeling que só Susanna Lira, com toda sua bagagem , poderia conceber.

O longa que passou pelo Festival Internacional de Cinema de Paraty chega em breve no circuito comercial, previsto para dia 29 deste mês.

Rogério Machado

Designer e cinéfilo de plantão. Amante da arte e da expressão. Defensor das boas causas e do amor acima de tudo. Penso e vivo cinema 24 horas por dia. Fundador do Papo de Cinemateca e viciado em amendoim.

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