Festival de Cinema de Paraty: De Pai pra Filho, de Paulo Halm | 2024
Numa conversa com o grande Marco Ricca durante o Festival Internacional de Cinema de Paraty, ele me revelou que quando recebeu o convite para protagonizar, junto com o Juan Paiva, a comédia dramática “De Pai pra Filho”, que passou pelo festival e que chega os cinemas nessa quinta, não pensou duas vezes. A vontade de trabalhar com Paulo Halm era maior, e segundo ele, aceitou mesmo antes de ler o roteiro. Halm tem uma longa lista de sucessos em filmes como “Quem matou Pixote?” (1996), “Guerra de Canudos” (1997) e “Cazuza – O tempo não Para” (2003), onde atuou como roteirista, e também na direção (“Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos”, 2009)
Assinado e realizado por Halms, “De Pai pra Filho” nos apresenta ao emblemático Machado (Marco Ricca), que foi líder da Capa Preta, uma banda de rock nacional que bombou nos anos 80. Sozinho e doente, Machado toma a atitude de se matar. Ao saber da morte do pai, José (Juan Paiva), sai do interior, onde tem um pequeno negócio, e segue para o Rio de Janeiro.
Chegando no apartamento do pai, que não via há mais de vinte anos, José descobre que Machado foi cremado e ele nem ideia tem do que fazer com as cinzas, pois simplesmente não conhecia seu pai, que o tinha abandonado desde criança. O fantasma de Machado aparece e tenta se reconectar com José, sem sucesso, até que José conhece Kat (Valentina Vieira), uma adorável menina que estudava piano com Machado e que também perdeu recentemente o pai. Nos vai e vens de um prédio em Copacabana, Kat ajuda José a perdoar seu pai, enquanto Machado ajuda o filho a conquistar o amor de Dina (Miá Mello), a mãe de Kat, que está um tanto perdida após a morte do marido.
Muito além de mostrar a reconciliação de pai e filho, “De Pai pra Filho” é uma história sobre relações, sobre superar os muros que se levantam diante de nós com amor. O olhar de Halm ao desenvolver os meandros e a construção de uma nova realidade usando o fantástico (ou sobrenatural, como queira) é sensível e poético, e o bate bola entre Ricca e Paiva é divertido e vibrante. As cenas da dupla são absolutamente impagáveis e é quando os traços da dramédia ficam mais realçados.
É também preciso deixar registrado as ótimas passagens de Miá Mello e a jovem atriz Valentina Vieira (brilhante em cena) pela trama de Halms, que traz novos sentimentos e proposições para a história. Contudo, preciso ressaltar que senti que falta otimização para deixar o projeto com menos cara de drama, mais quente. Acredito que o ritmo, imposto sobretudo pela montagem, fica comprometido quando nossos olhares são desviados do centro da trama. Porém, ainda que falte objetividade, sobra talento em provocar empatia no público, nenhuma surpresa, já que estamos diante de um desfile de grandes atores em cena e fica claro que cada um sabe muito bem o que está fazendo ali.
Por fim, vale também registrar que “De Pai pra Filho” estreia nos cinemas tendo na bagagem o merecido prêmio de Miá Mello na categoria de Melhor Atriz em Paraty.