“Donzela”: Fantasia medieval de princesa e dragão traz trama de vingança e sobrevivência | 2024
Machuquei você?
Uma das faces mais proeminentes do cinema contemporâneo é a do entretenimento escapista. Essa abordagem descompromissada, de desligar o cérebro por duas horas e só curtir o passeio que é assistir a uma história diferente, é algo que vem do cerne da sétima arte – mas ultimamente tem sido dominante no mercado e tem gerado uma quantidade avassaladora de obras com qualidade duvidosa. A maioria delas é esquecível e não tem tanto prestígio, uma vez que o público tem se mostrado cada vez mais suscetível a apreciar a criatividade em lugar de “mais do mesmo”. Ainda assim, o alcance da Netflix é gigantesco e mesmo seus piores títulos conseguem se tornar “campeões de bilheteria”.
E é em um meio de caminho entre ser inovador e descartável que “Donzela”, novo filme do streaming vermelhinho, se encontra. Ainda é cedo para afirmar com propriedade se essa adição ao catálogo é esquecível ou não, mas já dá pra afirmar que ela é, no mínimo, diferente. Particularmente não me recordo de nenhuma outra abordagem onde uma plebeia recém feita princesa passa por uma jornada de sobrevivência enquanto é perseguida por um dragão dentro de uma montanha. Contudo, por mais “diferentona” que seja essa pegada, o filme ainda assim não consegue se desvencilhar das convenções de típicos filmes adolescentes com diálogos medíocres. Tudo soa, ao subir dos créditos, como um pastiche bem batido. E isso significa que o filme é ruim? A resposta é totalmente subjetiva.
Em sua primeira meia hora o filme é como qualquer outro romance adolescente, desinteressado em ser mais do que um compilado de fragmentos desprovidos de originalidade e recheado de clichês gastos. A trama vira quando a princesa Elodie, personagem interpretada por Millie Bobby Brown, sofre uma traição de confiança e é abandonada à própria sorte, tendo que fugir de uma besta fera dragonesca enquanto descobre, aos poucos, a conspiração familiar que a colocou ali. E o ato de rebeldia do não-morrer transforma uma trama ordinária em uma jornada heroica de sobrevivência e busca por vingança, ganhando fôlego para se sustentar até quase seu final.
Só que, de um jeito bem estranho, o tempo todo o filme se assemelha a “Malévola: Dona do Mal” (2019). Robin Wright aqui é, sem nenhum segredo, a vilã do filme – e é fácil visualizar a personagem que Michelle Pfeifer desempenhou no filme da Disney ocupando seu lugar, porque elas são fruto de uma mesma cartilha. Faltam camadas, apesar de uma motivação bem estabelecida. Com isso, o filme tem seu mérito por ir contra algumas obviedades – a madrasta é boa, afinal -, mas suas artimanhas narrativas simplificam o que já era simples e deixam tudo “mastigadinho demais” – o que torna o saldo final bem mediano por conta da previsibilidade que isso acarreta. É um grande entretenimento escapista, e nada mais.