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“Deadpool & Wolverine”: Novo filme-evento da Marvel enaltece legados com festival de autorreferências e reverências aos anos 2000 | 2024

Bebam água

Desde dezembro de 2021, quando “Homem-aranha: Sem Volta Para Casa” chegou aos cinemas, o universo cinematográfico Marvel não conseguiu criar nenhum outro novo filme-evento capaz de reunir multidões por semanas à fio, lotando as salas de cinema e evocando à elas o espírito de uma arquibancada de final de copa do mundo entre Brasil e Argentina. Pelo contrário; foram fiascos de bilheteria, filmes que nem conseguiram se pagar e indicações vergonhosas ao Framboesa de Ouro. Mas o autoproclamado “Jesus da Marvel” chegou para prover uma salvação mais do que necessária para o UCM e conseguiu, em seu terceiro filme, criar uma conclusão digna à era Fox e tecer homenagens graciosas ao legado geracional deixado pelos anos 2000.
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Risos, aplausos, gritos e urros dos mais variados tipos e timbres passaram a competir com as caixas de som enquanto tantos momentos épicos (aos fãs) foram revelados. A direção de Shawn Levy, que trabalhou com Hugh Jackman em “Gigantes de Aço” (2011) e com Ryan Reynolds em “Free Guy” (2021) e “O Projeto Adam” (2022), é adequadamente cartunesca, e embora seja ele um estreante nos filmes baseados em HQs, seu estilo desde o primeiro “Uma Noite no Museu” (2006) mostra uma familiaridade sensitiva ao fantástico. Conectando principalmente a série “Loki”, “Logan” (2017) e o segundo filme solo do mercenário tagarela, “Deadpool e Wolverine” se desenvolve sobre o corte de uma ramificação na linha do tempo sagrada, curiosamente sem nenhuma grande relação com o uso de Wade ao artefato de Cable para viajar no tempo entre as realidades paralelas e/ou alternativas à sua própria.
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Nessa perspectiva, o filme é demasiadamente simplista e conecta seu teor nostálgico à uma dinâmica de pseudo-complexidade estrutural. Vendido como uma entrada triunfal de Deadpool ao UCM, o filme não entrega exatamente essa tão especulada trama; o que acontece aqui é uma reunião de referências tanto ao que já aconteceu quanto também àquilo que poderia ter acontecido. Em uma comunicação interessante entre a geração mais nova e a que assistiu aos primeiros “X-Men” quando lançaram, os acenos saudosistas mesclados ao contexto atual rendem ótimos comentários e autorreferenciais que se valem, principalmente, pela extinção abrupta do universo Marvel criado e distribuído pela finada 20th Century Fox, agora nomeada 20th Century Studios devido à compra consumada pela Disney um ano antes da pandemia. O filme romantiza e satiriza isso com um afeto caloroso aos fãs órfãos da Fox.
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O filme, enquanto obra não enviesadamente mercadológica, se vale por conceber um entretenimento adulto e autocrítico em uma época de pessoas de porcelana. O filme pouco se importa com a fragilidade sociopolítica que a geração mais nova traz com suas crises existenciais; o que importa é criar um momento de tributo e humor escrachado que se sustente com uma narrativa frenética e emotiva. É um filme mais sobre o desenrolar dos bastidores da indústria do que sobre o universo cinematográfico Marvel, se colocarmos esses dois pesos na balança. O público que vai apreciar melhor a obra é aquele que tem fresca na memória a imagem dos filmes dos X-Men e se inteirou sobre as fofocas e rumores que permearam a vida pessoal e as intrigas de elenco.
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Embora ao final fique uma sensação cretina de que alguns conceitos ficaram jogados, o filme cativa pela coragem em tratar com sinceridade e muito coração aquilo que os fãs sempre quiseram ver. É um espetáculo emotivo e politicamente incorreto como só o Deadpool poderia articular. A melancolia que rege o todo tem uma aura de despedida, mas como bem sabemos dessa indústria selvagem, pouquíssimos “adeus” são definitivos. As surpresas e participações especiais são as mais diversas possíveis, então o melhor é desligar a chave das conexões ao universo cinematográfico e focar mais nas conexões do mundo real, onde os realizadores agora são celebrados com muita música, sangue e palavrões. Um filme grande demais para Deadpool, que agora é um herói entre heróis.

Vinícius Martins

Cinéfilo, colecionador, leitor, escritor, futuro diretor de cinema, chocólatra, fã de literatura inglesa, viciado em trilhas sonoras e defensor assíduo de que foi Han Solo quem atirou primeiro.

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